quarta-feira, 4 de novembro de 2009

De volta para o futuro

Grão-Pará, 1825. As chamas da revolução crescem por todos os cantos.
Tomados de súbito pavor, os de cima exigem providências contra os "papéis insultantes" que os rebeldes distribuiam contra os "cidadãos probos e fiéis a V.M. Imperial", espalhando pela Província as "pestíferas sementes revolucionárias".
O autor da sedição não era outro senão o cônego Batista Campos, que "se cercava de gentalha, de soldados e de todos aqueles indivíduos, seus sócios, a quem instruía nas vertiginosas doutrinas republicanas".
Estes relatos sobreviveram pela pena de Domingos Antônio Raiol, em seu célebre "Motins Políticos" (1970:102-103).
Pois bem. Na primeira página do jornal de Batista Campos aparecia um lema que muito bem poderia ser utilizado para definir, com todas as letras, os personagens que se movem nas sombras dos tabuleiros eleitorais de 2010, no mesmo Pará de povo miserável e de uma elite perdulária, com suas elegantes peles de cordeiros e suas mãos manchadas pelo malfeito:

"De circunlóquios nada sei,
"O caso conto, como o caso foi,
"Na minha frase de constante lei
"O patife é patife, o boi é boi."

Uma boa imersão na coragem daqueles velhos tempos seria de muito proveito. E tiraria o sono dos que imaginam poder levar todo mundo no bico.


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