segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Rassenkampf

Após o holocausto da II Guerra Mundial, sob o impacto do extermínio de milhões e milhões de judeus, ciganos, comunistas, eslavos e outros tantos indesejáveis para o 3º Reich, a indignação e o pavor que percorreu todo o planeta deixou como herança a Declaração Universal dos Direitos Humanos, há quase 61 anos.
A guerra racial (rassenkampf) de Hitler, paradoxalmente, havia servido para despertar a mais profunda repulsa diante de quaisquer atrocidades cometidas sob a imunda bandeira da faxina étnica.
É claro que isso não foi suficiente para varrer os massacres e pogroms, que continuaram a acontecer em todas as latitudes e sob os mais diversos disfarces e álibis. Mas, agora, essas práticas odiosas ficaram para sempre marcadas como crimes de lesa humanidade.
Pois bem. No Brasil, nas vastas terras do Mato Grosso do Sul, há décadas se pratica um etnocídio contra os Guarani-Kaiová. Guerra surda, silenciosa, mas mortífera e eficiente.
Lá, naquelas imensidões hoje cercadas pelo gado e pela soja, mata-se pela fome e pelo aço disparado pela pistolagem. E a resposta das autoridades permanece sendo um olhar aparvalhado, como se nada disso nos dissesse respeito.
O último massacre - o sequestro e assassinato de dois jovens educadores indígenas - deveria causar um escândalo nacional. Deveria - mas não vai, fiquem certos - mobilizar os altos escalões, nem desembarcará naquele Estado onde impera a máfia do agronegócio e da grilagem, nenhum contingente da Força Nacional com suas boinas vermelhas.
Não, o que se verá, infeliz e tragicamente, é a repetição do silêncio. O silêncio dos cúmplices.

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