O delegado geral de Polícia Civil do Pará, Raimundo Benassully Neto, é uma pessoa que só abre a boca quando tem certeza.
Há quase dois anos, em plena Comissão de Direitos Humanos do Senado, ele teve o desplante de insinuar uma suposta "debilidade mental" da adolescente que havia sido brutalizada, por intermináveis 20 dias, por dezenas de detentos numa delegacia no município de Abaetetuba. Diante da imediata e bombástica repercussão da, digamos assim, incontinência verbal e intelectual do delegado, restou a ele apenas o caminho da entrega do cargo, antes que o escândalo assumisse proporções incontroláveis.
O mundo deu suas costumeiras voltas, e um belo dia o delegado Benassully é reconduzido ao seu antigo posto. Como policial, não há dúvida, que ele tem se mostrado um exímio porta-voz do governo Ana Júlia, talvez um tanto desastrado, mas, de toda forma, demonstrando uma sinceridade enternecedora.
É por isso que não deve causar estranheza a performance do delegado geral neste último - e quase fatídico - incidente envolvendo centenas de trabalhadores sem terra, na muito emblemática Curva do S, em Eldorado dos Carajás. Por pouco, mas por muito pouco, não ocorria mais um massacre e a responsabilidade direta seria creditada a ele e mais acima para quem teve a brilhante ideia de designá-lo para a missão de desbloquear - ao que tudo indica "a qualquer custo" - a rodovia PA-150. Esse "a qualquer custo", que ninguém esqueça, esteve na gênese da carnificina de 17 de abril de 1996. O tempo passa, os personagens se alternam, mas a grosseria e o despreparo parecem se impregnar em poderosas cadeiras de determinados salões palacianos.
A tomar por verdadeiros os argumentos esgrimidos por Benassully em resposta à indignada nota da CPT de Marabá, temos um cenário de "guerra contra o terror", uma espécie de estrada para Kandahar às margens do rio Tocantins. O advogado da CPT, José Batista Afonso, é pintado como um tipo interessado em provocar uma "nova tragédia na curva do S" e para tanto capaz de utilizar crianças como "escudos humanos" e os demais trabalhadores como "bucha de canhão". Faltou dizer que a CPT se transformou numa célula da Al Qaeda.
Antes que seja tarde é preciso que apareça alguém capaz de determinar que o prestimoso delegado abandone, o mais rápido possível, esse esquisito papel de bombeiro que tenta apagar as chamas do conflito despejando gasolina.
4 comentários:
Que o delegado falou e agiu erradamente quando do assunto Abaetetuba, todos sabem.
Resta saber o quê queriam as pessoas que portavam porretes e facões na passeata?
Não é mentira nem truque, as imagens mostraram.
Seria apenas "ferramentas de trabalho" dos que se propunham a protestar pacificamente?
A carta do delegado, além de muito mal escrita, confirma a nota da CPT: o despreparo é geral! Mais urgente ainda se torna uma explicação por parte da governadora e do PT. Antes que seja, mais uma vez, tarde demais...
Anônimo ingênuo das 16:35, o que podem porretes e facões contra o armamento da Polícia Militar? De que lado está a violência? E sua santa ingenuidade ou descarada má-fé não sabe que a estrada já estava desobstruída quando o desastrado delegado afrontou os manifestantes? A intenção de criminalizar toda e qualquer manifestação dos grupos excluídos e a farsa criada pelos latifundiários que contratam pistoleriros para garantir suas grilagens encontra eco nesse setor da sociedade ou obtusamente desinformado ou alienadamente conivente.
Calado, o delegado Benassuly é um poeta... e ficaria menos mal na fita.
Postar um comentário