"Frederico, 30 anos, pedreiro, natural do Maranhão, "onde foi comprado ao Sr. Luiz Antônio Gonçalves Ribeiro", evadira-se do Engenho Cafezal, segundo o anúncio "por não querer trabalhar", sendo caracterizado como "bem fallante", "vadio e pagodista", que sempre procurava andar "muito direito". Frederico era, então, retratado como um péssimo trabalhador, dado a conversa fiada, vadiagem e festas, por isso mesmo preocupado com a boa aparência, que era também uma forma de se passar por livre. Será que Frederico fugiu por não gostar de trabalhar, procurando na capital paraense o ambiente propício ao seu estilo boêmio de vida? O próprio senhor, embora procurasse associar sua fuda à vadiagem, observou sobre o fugido que "consta empregar-se em apanhar assahy (açaí) e o mais provável é estar refugiado n'esta cidade (Diário do Grão Pará, de 07/09/1873, p.3). Vê-se por aí quão diversas podiam ser as definições de trabalho. Para o senhor, somente o serviço executado sob seu comando pelos escravos seria considerado trabalho, o resto tendia a ser rotulado como alguma forma de vadiagem. Assim sendo, a ideologia senhorial acabava justificando a escravidão ao definir as fugas escravas como resistência ao trabalho em geral."
José Maria Bezerra Neto. Histórias urbanas de liberdade: escravos em fuga na cidade de Belém, 1860-1888. Revista Afro-Ásia, 28 (2002), p. 221-250.
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