Do leitor Artur Dias a respeito da postagem "A verdadeira face da selvageria":
Para os povos indígenas, a dor é um fato da vida. Se provamos do doce, também temos de provar do amargo. A vida é assim. Por isso, cedo os índios se familiarizam com a dor. Como os Kayapó, por exemplo, que, para marcar a passagem para a vida adulta, se escarificam usando a mandíbula afiada do peixe cachorra. São cortes profundos ao longo dos braços, que sangram muito. Para quê? Para lembrar ao indivíduo que ele não é melhor, nem pior que os outros, que assim como ele pode fazer mal aos outros, eles também podem lhe fazer o mesmo. A nossa sociedade é muito mal acostumada, com a sua mania de "estágio evolutivo avançado", de renegar elementos naturais dos quais nunca vai se desvencilhar. O cheiro corporal, a violência, a dor. A Eletronorte, expressão de um desenvolvimento social que busca nos distanciar do mundo desconfortável onde se dorme no escuro, onde a comida tem que ser consumida toda no mesmo dia, onde não se assiste TV, essa Eletronorte no fundo não liga a mesmo para o povo da região que lhe dá o nome. E um golpe de terçado no braço do engenheiro da Eletronorte representa, simbolicamente falando, menos que uma agressão inconseqüente, de bar de periferia, representa aquele lembrete básico: a Eletronorte está nos trazendo uma dor como esta, só que multiplicada milhares de vezes. Que não poderá ser tratada à base de rifamicina, e que talvez nem vá cicatrizar. A dor do engenheiro Francisco Rezende, tomara que lhe sirva de ponto de partida para um profundo questionamento pessoal, em que a lembrança da sua própria fagilidade mostre também a fragilidade da Amazônia, diante dos barrageiros e assemelhados.
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