A elite paraense se rendeu aos encantos da Vale. O beija-mão realizado ontem, com toda pompa e circunstância, para que Roger Agnelli recebesse uma comenda da Associação Comercial do Pará não poderia se contentar apenas a um papel de ridículo servilismo. Foi mais além, demonstrando que o domínio da segunda maior mineradora do mundo, no Pará, sua principal província mineral, é quase absoluto.
Deve ter sido hilária a disputa por alguns centímetros ao lado do todo-poderoso chaiman, apenas pelo tempo suficiente para que fosse feito o registro fotográfico que depois viria a entulhar páginas e páginas dos dois principais jornais paraenses, ambos, desta feita, unidos na saudável disputa para ver quem arremata o troféu da cobertura mais escancaradamente invertebrada.
Tratado como um senhor visitando uma de suas senzalas, Agnelli estava feliz da vida e à vontade para disparar asneiras do tipo: “temos certeza que a mineração é uma atividade altamente amigável para com o meio ambiente”. Vai ver que a platéia, embevecida e ávida por recolher alguma migalha que por ventura escorregue do prato farto e transbordante da megaempresa, explodiu em entusiásticos aplausos. Pano rápido.
Como ninguém deve ter tido coragem de perguntar, o novo comendador do empresariado paraense também não se dispôs a esclarecer qual fim terá tomado a promessa de construir uma siderúrgica no Pará. Preferiu, como sempre, reforçar sua auto-imagem de executivo bem-sucedido, alheio a esses entediantes e aborrecidos problemas terrenos, representados por sem-terra e garimpeiros. Do alto de seu Olimpo, ele ainda fez um gesto de desprendimento ao agradecer, de público, o apoio da governadora Ana Julia e de sua Secretaria de Segurança Pública nas ações de controle dos movimentos sociais que, repetiu didaticamente, “não têm nada a ver” com a Vale. Aparentemente selou um armistício com o governo do Estado, se é que efetivamente houve mesmo um abalo sério no relacionamento com as autoridades paraenses. A ausência da governadora Ana Julia na concorrida cerimônia, ao que parece, não deve ser mal interpretada. Uma nota da Secretaria de Comunicação do governo do Estado sob o singelo título “Governo fortalece diálogo com a Vale”, não deixa margem a dúvidas acerca do atual estágio da celebrada “parceria”. Aquela mesma parceria que se estabelece entre o lobo e o cordeiro.
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