sexta-feira, 2 de maio de 2008

Ilusões em oferta

O Brasil, de uns tempos para cá, vem se alimentando de uma dose cavalar de "boas notícias" ou, pelo menos, como se assim o fossem. Como num passe de mágica, deixamos o estropiado "clube de países devedores" e passamos ao grupo dos "credores" internacionais, tendo dado cabo definitivo à dívida externa. "Graças a Deus", repete um presidente Lula embevecido com sua própria capacidade de transformar o nada em algo material, palpável.
O petróleo, riqueza que está na raiz de tantas guerras e desgraças, também já não é mais problema. "Somos auto-suficientes", explode a euforia verde-amarela, impulsionada pelas novas descobertas do megacampo de Tupi, com reservas tidas como gigantescas.

E, para arrematar a pintura de um cenário dourado, coube a Lula anunciar à nação, nesta semana, que o país acabara de receber da agência de classificação de risco Standard & Poor's o investment grade, que qualificou como o reconhecimento da comunidade internacional da solidez e seriedadade da política econômica de seu governo. No rastro da entusiástica fala presidencial, a Bovespa dispara e os comentaristas econômicos da grande mídia, em discurso quase unânime, exultam com o esperado ingresso de mais dólares na economia brasileira e, segundo prevêem, os positivos reflexos em termos da geração de renda e emprego.
Tudo uma maravilha, não fosse a mais descarada manipulação. O que é bom para o mercado - vale dizer, para a gigantesca nuvem de capital parasitário que envolve o globo - é necessariamente o pior dos mundos para os que vivem de seu próprio suor. E isso é verdadeiro em qualquer latitude e sob qualquer regime político. As demonstrações de incontida alegria só têm cabimento para os setores que se beneficiam do cassino especulativo no qual o Brasil foi transformado ao longo das últimas duas décadas, com uma economia desregulamentada e de porteiras abertas ao livre trânsito de capitais que se beneficiam das maiores taxas de juros reais do planeta. Com a mesma facilidade que entram, podem sair também quando esta for uma opção conveniente à realização de seus fabulosos lucros. Isso, aliás, já vem ocorrendo, quando as multinacionais e grandes especuladores procuram repatriar seus ganhos e cobrir, ao menos em parte, os pesados prejuízos da grave crise financeira da economia norte-americana.
Descontada a bazófia de alguns e o agressivo merchandising dos idólatras da atual bolha especulativa, todo esse manancial aparentemente inesgotável de bons presságios pode se desmanchar no ar. No exato momento em que a crise deste sistema intrinsecamente desequilibrado e instável começar a bater em nossa porta.

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