terça-feira, 20 de maio de 2008

Legião Estrangeira

Que tal uma grande multinacional belgo-francesa controlando uma das maiores e mais importantes usinas hidrelétricas do país, no coração da Amazônia? É exatamente isso que vai acontecer depois que a Suez Energy venceu o leilão para construir e explorar a hidrelétrica de Jirau, a segunda usina do Complexo do Rio Madeira, em Rondônia. Ela possui 50,1% do consórcio também formado pela Camargo Corrêa, Eletrosul e Chesf.
Explica-se, assim, a brutal pressão exercida pelo Planalto sobre a ex-ministra Marina Silva para forçar a liberação das licenças ambientais para as duas usinas - a primeira, a de Santo Antônio, está nas mãos de outro poderoso consórcio liderado pela construtora Odebrecht. Sob o argumento de que se tratava de obra fundamental para o país, pavimentou-se o caminho para assestar esse duro golpe na soberania nacional.
Para quem não conhece, o grupo Suez é um dos gigantes mundiais na área industrial e de serviços, espalhando seus tentáculos nos setores de produção de eletricidade, gás natural, abastecimento de água e gestão de resíduos. Possui 149 mil empregados e mais de 200 milhões de clientes individuais em todo o mundo. Porém, sua passagem pela América do Sul deixou um rastro de escândalos.
Não foi sem motivo que o governo de Evo Morales, na Bolívia, negociou a saída do grupo de seu território, cancelando sua concessão de abastecimento de água e tratamento de esgoto em La Paz e El Alto (enorme bairro popular contíguo à capital), depois de decretar a nacionalização desse setor estratégico.
Para quem não se recorda, a Suez Environment foi a causa principal da explosão popular de 11 de janeiro de 2005, que incendiou por três dias o altiplano boliviano, numa greve geral contra a permanência da multinacional naquele país. Somente depois da eleição de um governo de esquerda foi possível dar fim a este conflito que perdurava desde 1997 quando uma onda de privatização selvagem arrasou a frágil economia boliviana.
O Brasil, cuja importância mundial não permite qualquer paralelo de comparação com aquele que é o segundo mais pobre país do continente, parece ter optado pelo caminho inverso: abre, para o capital estrangeiro, o que há de mais precioso: seus recursos naturais e energéticos. Para piorar, ainda utiliza recursos públicos para financiar o lucro privado. A usina de Jirau está projetada para custar R$ 8,7 milhões, dos quais 70% deverão ser financiados pelo BNDES, uma verdadeira mãe para o grande capital sem fronteiras.

Um comentário:

Anônimo disse...

falando de empresas como e o sentido deste artigo em que pé fica a Petrobras? e diferente?