"Não há melhor fé que acreditar no impossível", diz o pintor Cándido López ao brigadeiro-general Bartolomeu Mitre. O diálogo - fruto da imaginação genial do escritor paraguaio Augusto Roa Bastos, bem que poderia mesmo ter existido. Imersos no calor, na lama e no sangue da cruenta frente de batalha, na desastrosa Guerra Grande, a Guerra da Tríplice Aliança, ou a Guerra do Paraguai, como denominamos no Brasil, os personagens refletem sobre o passado, a lembrança e o registro que o futuro fatalmente fará disso tudo. O líder militar argentino, ao apreciar a tela que seu ajudante-pintor tentava criar, mesmo após ter perdido uma das mãos na batalha de Curupaytí, arremata, entre cínico e desconsolado, que "o que vale é a lembrança que o futuro fará".
Desde domingo passado, o Paraguai, nação destroçada pela guerra genocida inspirada e financiada pela Inglaterra, potência imperial da época, deu um passo para ajustar contas com seu passado. A vitória eleitoral de um candidato de esquerda, o ex-bispo católico Fernando Lugo, colocou por terra 61 anos de domínio do partido Colorado, mas terá pela frente a gigantesca tarefa de recolocar de pé um país cujo povo foi praticamente exterminado e os que sobreviveram assistiram seu futuro ser hipotecado e arruinado durante décadas sem fim.
São mesmo enormes as tarefas da Aliança Patriótica pela Mudança (APC, na sigla em espanhol), frente eleitoral que levou Lugo ao poder. Serão ainda mais difíceis se não contar com o apoio e solidariedade de seus vizinhos, em particular do maior deles, o Brasil. Por isso, antes que renasça a campanha xenófoba contra os direitos do povo paraguaio de renegociar com o Brasil os termos do tratato de Itaipu, firmado em 1973 pelos regimes militares que garroteavam ambos os países, é preciso firmar posição a favor de uma pactuação justa, que não continue sacramentando um estatuto neocolonial em relação ao Paraguai.
Infelizmente, as primeiras declarações do presidente Lula vão no sentido inverso a esse indispensável resgate histórico da dívida que o Brasil, há tanto tempo, possui com este povo que teve a coragem de tentar construir, em pleno século XIX, um projeto soberano de nação.
Um comentário:
Enfim o Paraguay será um país, pois até então é uma colonia dos eua.
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