A anunciada crise da fome no mundo não tem nada de novidade, nem decorre de causas naturais. Suas raízes estão plantadas na forma desigual e iníqua como as potencialidades do Planeta são distribuídas estre todos os seus hóspedes, como dizia Josué de Castro. Não se trata de fenômeno natural, ensinou o grande mestre. É obra dos homens e de seus sistemas econômicos baseados na exploração e na desmedida concentração de renda, riqueza e poder.
Lula defende a alternativa dos agrocombustíveis com unhas e dentes e alfineta o protecionismo dos países ricos. A ONU aponta o dedo para o etanol, apresentado como um dos principais vilões do agravamento da fome crônica na Ásia, África e parte da América Latina. Para piorar o quadro, houve secas em várias partes do mundo e o aumento e exorbitante do preço do petróleo encarece os fretes, provocando mais inflação nos alimentos.
Todos estão com razão e sem razão ao mesmo tempo. É óbvio que a utilização em larga escala do milho e de outras culturas para a produção de etanol, como os Estados Unidos e parte da Europa estão implementando, provoca um forte impacto na produção de alimentos. Também não é despropositado o ataque às barreiras comerciais dos países ricos, que tornam ridículas suas anunciadas "ajudas humanitárias", migalhas lançadas à tempestade.
E é igualmente verdadeira a crítica que sustenta o avanço da cana-de-açucar sobre áreas do pantanal e da Amazônia, além de ser um fato que essa corrida ao "ouro verde" acelera a especulação com o preço da terra, jogando mais lenha na fogueira da expansão da fronteira agrícola, sob prejuízo da agricultura familiar, esta sim a principal produtora de alimentos do país.
Enquanto os debates prosseguem em conclaves solenes e inúteis, a legião de deserdados, famélicos da terra, não pára de crescer, uma onda gigante que ameaça engolfar todos os quadrantes de um lar que deveria ser o espaço de fartura e prosperidade para todos.
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