Até agora guardando um estranho e suspeito silêncio, a governadora Ana Júlia declarou à Folha de São Paulo que "estranhou" a maneira "inábil" como a Vale tem tratado a possível manifestação de garimpeiros e sem terra no sudeste do Pará. " Vínhamos conversando, dialogando. E então eles subiram o tom. Foi como um surto", afirmou.
Estranho, realmente muito esquisito, é não perceber que a Vale está onde sempre esteve: a favor de seus gigantescos lucros e agindo no Pará como potência colonial e força de ocupação estrangeira. Não há falta de "habilidade", mas um plano coerente com a disposição de empurrar o ônus da repressão aos movimentos sociais para as costas do governo, aliás, como sempre a Vale fez, desde os tempos em que era estatal. Jamais respeitou o Pará e os paraenses, essa "tropa de selvagens", como lembrou, mais de 170 anos atrás, o ministro de Sua Majestade Britânica, Henry Stephen Fox, amedrontado com dimensão e profundidade da insurreição cabana nestas terras.
Ao invés de apresentar uma "reação" tão tíbia e desprovida de qualquer combatividade, a governadora do Pará deveria se abster de cumprir o triste papel de guardiã dos interesses e das propriedades de uma empresa cuja dívida com o povo do Pará é simplesmente incalculável. Que falta faz, nestes tempos cinzentos, quem se disponha a enfrentar a Vale com uma pequena fração do decoro e da auto-estima dos negros e índios que naquele distante 1835 levantaram a bandeira rubra contra a tirania.
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quarta-feira, 16 de abril de 2008
A falta que o decoro faz
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