terça-feira, 29 de abril de 2008

O endereço da tragédia

Afirmar que o crescimento da violência está atingindo níveis insuportáveis no Pará, e particularmente na capital, é quase um lugar comum. Tão evidente quanto a falta de respostas da área de segurança pública do governo, que agora acena com o breve anúncio de "plano de ação emergencial", é a constatação de que essa tragédia cotidiana, ao alcançar praticamente todos os extratos sociais, desaba de forma mais contundente sobre os mais pobres e desprotegidos.
Uma rápida leitura do levantamento publicado na edição de hoje de O Liberal, relatando a morte de 14 pessoas na Grande Belém somente nas últimas 72 horas, uma morte a cada cinco horas, será suficiente para expor a segregação da quase totalidade das vítimas nos bairros mais periféricos e abandonados, onde a miséria serve de campo fértil para a disseminação do narcotráfico e de variadas manifestações criminosas. Dentre os mortos, vários deles trucidados com enorme brutalidade, estão pessoas que ganhavam a vida como pedreiro, vendedor ambulante, desenhista e borracheiro. Possuíam em média menos de 30 anos e faziam parte de uma geração sem qualquer perspectiva de futuro.
Algozes e vítimas, não raro, dividem o mesmo território, nascidos e criados nas comunidades que vivenciam uma guerra civil silenciosa e cruel. Padecendo de idênticas vicissitudes, a história desses paraenses que engrossaram as estatísticas da criminalidade sem controle deve servir de alerta. O ovo da serpente há muito se instalou por entre as frestas de uma sociedade radicalmente desigual e intrinsecamente violenta. Cobra-se agora o preço pelo não-enfrentamento de dilemas estruturais sempre negligenciados. Passar mercúrio cromo nessas fraturas expostas não será de qualquer valia.

Um comentário:

Anônimo disse...

aldenor, como eu sempre digo, tem posts que vc consegue o máximo na concisão e na densidade, deverias escrever mais que isso
continuo seu e-leitor
jc