Como nos velhíssimos tempos: desembarcou ontem no Pará, trazendo arrogância e desrespeito na bagagem, no melhor estilo dos Vice-Reis dos tempos coloniais, o diretor-presidente da Vale do Rio Doce - ou simplesmente da Vale, como prefere ser chamada. Elevando o tom de seus ataques aos movimentos sociais, a quem chamou de "bandidos", Agnelli disse não ter nada a ver com as demandas de garimpeiros, sem terra e outros. Recomendou que batessem em outras portas e não tivessem como alvo sua empresa, cuja única preocupação é seguir crescendo e investindo bilhões e bilhões, blá-blá-blá...
Para além do discurso algo hidrofóbico do executivo da Vale, repetindo a mesma cantilena que permeia a cobertura parcial e preconceituosa da grande imprensa, o que chama atenção é a passividade e aceitação que suas palavras produziram na sociedade local, uma platéia de subalternos, servos de gleba, que se desdobravam em mesuras e macaquices para alegrar o enviado da Corte. Triste papel, expressão ridícula de uma elite política e empresarial que se resigna a exibir uma postura invertebrada, rastejante.
A riqueza e o poder da Vale decorrem, em elevada medida, das riquezas que retiram das entranhas do território que pertence a essa mesma população de deserdados - índios, ribeirinhos, camponeses com pouca ou nenhuma terra, marginalizados das periferias urbanas. Os impactos socioambientais permanentes da mineração e de outros grandes empreendimentos voltados para o comércio exterior são vivenciados por essa maioria social, que nas palavras pedantes do chairman da ex-estatal não possui qualquer relação com as atividades de exploração econômica acelerada que exerce nestas plagas. Ocorre que a vida real costuma ser bem mais complexa que os esquemas bem-pensantes e assépticos de uma geração de yuppies, tão privatistas quanto insaciáveis quando se trata de abocanhar e sugar, até a exaustão, as sempre apetitosas tetas do Estado.
Não custa lembrar que, apesar de toda a campanha midiática voltada à criminalização das mobilizações sociais e mesmo do enorme aparato que o governo do Estado se apressa em montar na região de Carajás, o encontro entre o discurso ideológico das elites e a dura realidade de miséria e instabilidade que caracteriza o Pará tem data marcada para ocorrer. Espera-se que não de forma trágica como há 12 anos, numa tarde cinzenta, numa curva perdida, numa estrada perdida, a poucos passos do inalcançável eldorado.
6 comentários:
É Aldenor Júnior, a reação irada de Roger Agneli, o todo-poderoso da Vale só ressalta que a empresa continua com o perfil do capitalismo selvagem. Crescer, crescer, crescer e crescer, sem se importar com o que está ao lado. Não é a primeira vez que Agneli afirma em letras garrafais que a Vale nada tem a ver com os problemas sociais do Pará. Esse discurso ele vem repetindo em todas as visitas dele aqui.
Enquanto isso o poder público continua o tratando como honras de chefe de Estado.
Um abraço e bom fim de semana.
Aline Brelaz
Cara Aline,
E o mais incrível é que não houve ninguém ontem para cobrar do Sr. Agnelli alguma informação mais precisa sobre a siderúrgica que ele e a governadora anunciaram, com pompa e circunstância, há poucas semanas. Será que esse projeto terá o mesmo fim daquelas 30 mil casas prometidas pelo mesmo executivo da Vale e pelo então governador Simão Jatene?
Um ótimo final de semana para você também. Volte sempre.
aldenor, lhe conheço desde os anos 80, e saúdo sua profissão e fé no socialismo - se é que ele existirá algum dia, ou sejam mesmo possível - mas certos post que vc consegue o insuperável entre a pena nostálgica(?) e denuncista de nossas mazelas imemoriais; este posto vc se superou. O elogio é pura verdade. Me senti um completo servo da gleba, como vc mesmo disse, pois assisti ao comentário do bacana AGNELLI - que nome hem? - na TV descascando prá cima do MST. No final do post vc beirou a poesia, bicho. Boa sorte e continue assim, e convença o mordedor de dedos de PMs, o Edmilson, a desbancar este mordaz prefeito que destrói belém com a conivência das elites emplumadas em seus apartamentos.
abs
jc
É, Jota-érri, é isso aí, elite subalterna e servos de gleba...
Como disse o Dep. Gabriel Guerreiro, a Vale está aqui para lucrar, não para fazer caridade...
o que nós temos de fazer é reestatizar a Vale.. pelo menos essas estruturas aqui dentro do Pará e do Maranhão...
Anônimo das 22h48,
Não perca seu tempo. Aqui não tem espaço para agressões gratuitas. Ou, se preferir, tire o capuz do anonimato e venha debater como gente grande.
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