O discurso xenófobo que identifica nas ONGs estrangeiras uma ameaça à soberania nacional, ao transmitir um alarmismo exagerado e despido de fundamento acaba trazendo como subproduto que se releve a existência de alguns casos de atuação deletéria de determinadas entidades na Amazônia. Muito embora estejam longe de representar um risco à integridade territorial brasileira, certos grupos podem sim contribuir decisivamente para o desaparecimento de povos que se encontram em situação de vulnerabilidade extrema. É o que acontece com algumas etnias isoladas ou que convivem sob fortíssimo cerco das frentes de devastação, como os Suruwahá (Zuruahã, Soroaha ou Jokihidawa), povo que habita a região entre os rios Purus e Juruá, na margem direita do Amazonas, nas proximidades da cidade de Labréa (AM).
Segundo denúncias da Funai, a presença entre os indígenas de uma missão norte-americana denominada Jocum (Jovens com uma missão), tem contribuído para a desestruturação da vida social e cultural da tribo, agravando a situação de cerco a que estão submetidos. Como conseqüência, aumentou muito no último período o número de suicídios, um traço que já faz parte da cultura e da complexa cosmologia desse povo, que segundo estudos antropológicos valoriza entre os jovens a noção de recusa e de certo desprezo à velhice e à decadência física. Daí a grande quantidade de suicídios - 38 casos relatados entre 1980 e 1995 - por ingestão voluntária de konaha (timbó, variedade vegetal largamente conhecida pelas populações indígenas sul-americanas).
Para os técnicos do governo federal, os missionários da Jocum são um "veneno lento e letal dos Suruwahá", que pode levá-los à extinção.
Diante de um risco tão iminente, questiona-se se o Estado brasileiro, tão lerdo e pesado quando se trata de defender os mais humildes e desprotegidos, vai esperar para agir com o rigor exigido quando mais nada houver a fazer.
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terça-feira, 22 de julho de 2008
Perigo real e imediato
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