Não podia ser mesmo diferente. A midiática operação que libertou Ingrid Betancourt e mais 14 reféns das Farc, entre eles três mercenários norte-americanos, foi planejada, executada e financiada em estreita articulação entre o governo direitista de Álvaro Uribe e o Pentágono. A revelação, que não deve causar espanto diante do enorme poder exercido pela Casa Branca nos assuntos internos colombianos, foi feita pelo embaixador estadunidense em Bogotá, William Brownfield, que admitiu que várias decisões sobre o resgate "foram tomadas nos mais altos níveis do governo americano", de acordo com matéria do jornalista Sérgio Dávila, publicada na edição de hoje da Folha de São Paulo.
Uribe, que há semanas enfrentava sua maior crise a partir da eclosão do escândalo da compra de votos que garantiram sua reeleição (qualquer semelhança com o segundo mandato de FHC e com o mensalão de Lula não são meras coincidências), pode agora respirar aliviado. Virou um ícone de um determinado tipo de líder latino-americano cuja estatura não ultrapassa os limites dos rodapés do Salão Oval em Washington.
5 comentários:
Mas vem cá... era pra deixar a mulher lá? Ou vc acha que os reféns e o uso do dinheiro do narcotráfico é correto, já que as FARC são um grupo "revolucionário"? Então a supressão das liberdades individuais e as mortes causadas pela narcoguerrilha são justificáveis?
Me dê uma resposta que não seja comparativa, por favor.
Anônimo das 13h35,
A guerra civil colombiana têm raízes muito mais profundas do que sonha a vã filosofia dos que se deixam enganar por esses conceitos made in USA como é o caso da suposta "narcoguerrilha".
Aliás, existe mesmo na Colômbia uma fortíssima presença dos cartéis da droga, que abastecem o mercado de consumidores nos Estados Unidos. Essas máfias se articulam com os grupos paramilitares de extrema direita, criados nas últimas décadas pelos grandes proprietários do campo para fazer frente ao crescimento da influência das Farc e ELN, principalmente. Alvaro Uribe e sua família têm tudo a ver com isso.
Por outro lado, setores da guerrilha foram criando relações de promiscuidade com os narcotraficantes; primeiro, através da cobrança de uma espécie de "imposto"; depois, num esquema de proteção às atividades ilegais que se desenvolvem nas chamadas zonas liberadas no interior do país. Note-se que esse tipo de desvio cedo ou tarde cobra um epsado preço, desmoralizando uma luta por justiça social que se prolonga há décadas.
Por isso, é funadmental lançar um olhar mais amplo e crítico sobre o problema, evitando os estereótipos e a simples repetição dos chavões da imprensa conservadora.
Pois é, mas vc. bem poderia ter escrito de outro modo. Desmerecer a libertação com a "denúncia" de ser obra do Pentágono, da Cia e dos marcianos leva apenas a uma constatação: as FARC perderam o bonde da história, ao caírem a nível tão baixo quanto aqueles que tu criticas. Fazer revolução sem ética é cavar sempre valas comuns, mais que trincheiras.
Mas é assim, das 20:16... o blogueiro não se liva dos preconceitos. Não consegue ver o aspecto humanitário do resgate de alguém que passou 6 anos no meio da selva, sem querer estar lá, sob risco intermitente de morte a qualquer hora, por motivos que ela não provocou. Pensar que ainda há 400 pessoas sob a mesma situação é simplesmente revoltante.
O preconceito se demonstra ainda no momento em que o blogueiro pensa que ele é o dono da verdade, somente ele sabe das coisas e que todos os outros são uns imbecis, que acreditam nos "estereótipos e chavões da imprensa conservadora" (quer coisa mais chavão e estereotipada que isso?).
O poster não consegue reconhecer que a guerrilha sobrevive do narcotráfico e dos seqüestros. Não fosse assim, qual seria o meio de sobrevivência dos "revolucionários" na selva? Ajuda internacional? De quem? E isto não significaria ingerência internacional nos assuntos da América Latina, como se queixam os revoltosos anti-americanos?
O fato é que o discurso é canalha de um lado e de outro. Todos são canalhas nesta história. Todos, em exceção: a potência do norte e seus falcões belicistas, os bolivarianos da Latino-América e as viúvas do totalitarismo assassino de esquerda.
A superação deste debate obtuso e de seus defensores míopes é que deve ocorrer para que a humanidade tenha saída.
Anônimo das 18h15,
Para que a polêmica possa continuar acesa, publiquei acima seu comentário, ressalvando, porém, minha discordância visceral com ele. Chama atenção que ainda hoje, mais de 15 anos após Fracis Fukuyama decretar o "fim da história" em meio à onda neoconservadora que assolou o planeta, ainda têm muitos que tentam levitar sobre os supostos escombros da esquerda e da direita, como se se antagonismo estivesse extinto por decreto.
Opiniões como essas, com a dicção arrogante de sempre, só demonstram como é essencial tomar partido e lançar um olhar crítico sobre a realidade atual.
Vamos continuar debatendo.
Postar um comentário