O velho Brizola não cansava de denunciar as perdas internacionais que garroteavam a economia brasileira e limitavam o horizonte do crescimento soberano do país. O que diria ele se tivesse sobrevivido mais alguns anos a ponto de ver, de forma nua e crua, o processo de regressão neocolonial a que a maior nação latino-americana está submetida, por imposição de fora, mas também com o beneplácito de uma elite que se acomoda ao papel de sócia menor dos verdadeiros centros do poder.
Números trazidos hoje pela Folha de São Paulo dão bem a dimensão da tragédia embutida na prevalência do modelo exportador de commodities (agrícolas ou minerais, tanto faz). O país arca com os pesados ônus sociambientais de uma atividade no geral predatória e realizada sob enorme proteção tributária - não foi à toa que a antiga lei Kandir foi elevada à disposição constitucional já sob o governo Lula, desonerando pesadamente a exportação dos chamados semi-elaborados. E, apesar disso, o lucro e os empregos são gerados além-mar, fortalecendo as economias dos países compradores, com destacada liderança do insaciável parque fabril chinês.
De todos os trilhos ferroviários reformados ou implantados anualmente no Brasil, mais da metade vem das fábricas chinesas. O detalhe é que a matéria-prima utilizada pelos chineses - o minério de ferro - primeiro sai do Brasil, da província mineral de Carajás, no Pará, ou Quadrilátero Ferrífero de Minas Gerais, atravessa 16.500 quilômetros de distância, atravessando oceanos, até retornar com um enorme valor agregado.
Para produzir uma tonelada de trilho que é vendida ao Brasil por US$ 850, as siderúrgicas chinesas precisam comprar quase duas toneladas de ferro, a um custo médio de US$ 144. Fazendo as contas, resta um "prejuízo" de mais de US$ 700 por tonelada de trilho, que é o preço que o Brasil paga por ter desmantelado seu parque siderúrgico em meio à privatização selvagem desencadeada desde o governo Collor. Para se ter idéia do tamanho do rombo basta citar que o Brasil deve investir na aquisição de trilhos, somente neste ano, algo superiora US$ 135 milhões, com previsão de dobrar este valor até o final de 2009. Ficamos com os buracos e com a miséria social em escala ampliada, enquanto os lucros e os postos de trabalho florescem no gigante asiático.
Um comentário:
Lucros esses que certamente não ficarão na China, pois quase todas essas indústrias chinesas foram implantadas com capital exógeno.
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