José Anselmo dos Santos não é um homem qualquer. Sob seus ombros repousa a responsabilidade direta pelo extermínio de dezenas de militantes políticos durante o regime militar. Cabo Anselmo, como ficou conhecido, foi um traidor. Em circunstâncias nunca totalmente esclarecidas, ele "trocou de lado", tornando-se um infiltrado nas organizações da resistência armada. Um "cachorro", no jargão das forças repressivas.
Agora, tantos anos depois, através de seus advogados, ele demanda junto à Comissão de Anistia, em Brasília, o suposto direito à "indenização" em decorrência das "perseguições" que teria sofrido durante a ditadura.
Em 1984, ao lendário repórter Octávio Ribeiro, o Peninha, Anselmo concedeu uma antológica entrevista à revista Isto É. Nela, ele revelou estar vivendo sob nome falso e com o rosto modificado por cirurgias plásticas. Perguntado quantas pessoas teriam morrido em função de seu trabalho como delator, Anselmo respondeu: "Umas cem, duzentas". Dormia tranqüilo apesar disso? Ele foi direto: "Absolutamente. Durmo com a consciência tranqüila. Se fosse necessário, faria tudo outra vez.".
Entre suas vítimas estão militantes experientes - alguns ex-militares como ele e quadros da luta armada que haviam recebido treinamento militar em Cuba. Muitos foram presos com vida e depois supliciados até a morte em prisões oficiais ou em campos clandestinos de extermínio. Para não deixar dúvida sobre o caráter criminoso desse personagem, é sempre conveniente lembrar que ele não hesitou sequer em entregar para a morte sua própria namorada, a paraguaia Soledad Barret Viedma, que à época estava grávida de quatro meses. Segundo relatos de sobreviventes, o corpo de Soledad foi colocado dentro de um barril metálico, nu e encharcado em seu próprio sangue. Ela e mais cinco guerrilheiros morreram na chacina da Chácara São Bento, na periferia de Recife, em 1973.
Somente a pressão das entidades de direitos humanos e das ONGs que representam os familiares dos mortos e desaparecidos poderá impedir a consumação dessa ignomínia.
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