sábado, 20 de dezembro de 2008

Dialética do poder e de seus perigosos homens

" (...) Deep Throat (Garganta Profunda) já estava à sua espera, fumando um cigarro. Mostrou-se contente de ver Woodward e apertou-lhe a mão. Woodward contou que ele e Bernstein precisavam de ajuda, realmente precisam de ajuda neste caso. A amizade de Woodward por Deep Throat era espontânea e sincera, não cultivada. Muito antes do caso Watergate, haviam passado muitas noites falando de Washington, do governo, do poder.
Numa dessas noites, Deep Throat observara como a política se havia infiltrado em todas as camadas governamentais - a Casa Branca de Nixon se apossara com pulso forte de todas as repartições do governo. Assistentes-junior da Casa Branca davam ordens nos mais altos níveis do serviço público. Certa vez, Deep Throat se referira a isto como a "mentalidade do aguilhão". e mencionada a disposição dos homens do Presidente para jogar sujo, sem meios-termos, indiferentes aos efeitos que uma política de retaliação pudesse ter sobre o governo e sobre o país. Não havia amargura em seu tom de voz. Woodward percebia nele a resignação de um homem cujo vigor se esvaíra em muitas batalhas. Sempre dizia menos do que sabia. Jamais tentava mostrar seus conhecimentos ou exibir sua importância. Woodward considerava-o um mestre da sabedoria. Era imparcial e parecia esforçar-se sempre por encontrar a versão mais aceitável da verdade. A Casa Branca de Nixon o preocupava.
- Sâo todos desleais e impenetráveis - dissera repetidas vezes. Tampouco acreditava na imprensa. - Não gosto de jornais - dizia abertamente. Detestava inexatidão e superficialidade".


Carl Bernstein e Bob Woodward. "Todos os homens do presidente", 1978, Livraria Francisco Alves Editora, p.108. Deep Throat, a fonte decisiva no escândalo Watergate, permaneceu anônima durante mais de três décadas. A identidade de William Mark Felt, ex-diretor do FBI, só foi revelada recentemente. Ele faleceu ontem, aos 95 anos.

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