Roger Agnelli não é um qualquer. Guindado ao cume da segunda maior mineradora do mundo e principal empresa "privada" (neste caso, as aspas fazem todo sentido), ele cultiva um estilo arrojado e impetuoso. Incensado como a revelação do sucesso do mercado sem fronteiras, fala o que quer e, raramente, ouve o que precisaria. Mas agora, passou dos limites.
Segundo o Estadão, Agnelli admitiu que nos últimos dias conversou com o presidente Lula sobre a flexibilização das leis trabalhistas. "O governo e os sindicatos precisam se convencer da necessidade de flexibilizar um pouco as leis trabalhistas: suspensão de contrato de trabalho, redução da jornada com redução de salário, coisas assim, em caráter temporário", afirmou. Quase como uma piada - de evidente mau gosto - ele se declarou disposto a reduzir, "temporariamente", seu próprio salário. Um gesto patriótico, sem dúvida, se não fosse uma cusparada na face dos milhares de demitidos da própria Vale e de outros grandes conglomerados que não vacilam em atingir dura e impiedosamente os trabalhadores, desprotegidos e sem defesa.
Diante da crise que se aprofunda, a solução não pode ser outra: sangrar os direitos trabalhistas, transferir o ônus da farra especulativa para o mundo do trabalho, preservar - e ainda se possível ampliar - a escalada de acumulação dos rentistas nacionais e estrangeiros.
Roger Agnelli age e pensa com a arrogância dos que sempre mandaram. Sua tarefa parece ser facilitada pela quase total falta de compostura entre os que possuem mandato popular, amofinados e microscópicos diante de um cenário que exige fidelidade ao povo. E isso, todos sabem, é cada vez mais difícil de encontrar.
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