Clarice Lispector deu seu último sopro de vida (na forma humana, como estamos acostumados a conhecer), há 32 anos. Era 9 de dezembro de 1976 e seu coração selvagem parou. O câncer a vencera, aprendizado de horrores, uma verdadeira via crucis do corpo. Morria e nascia (para sempre) nossa maior estrela, a bela e a fera, una e diversa, de corpo inteiro, estrangeira da legião dos que vivem a paixão (segundo HG ou qualquer outra improvável combinação tão aleatória, tão previsível).
Onde estivestes de noite, Clarice? Em que labirintos de palavras e significados te perdestes?
"(...) Então a senhora seguiu por um corredor sombrio. Este a levou igualmente a outro mais sombrio. Pareceu-lhe que o teto dos subterrâneos eram baixos.
E aí este corredor a levou a outro que a levou por sua vez a outro.
Dobrou o corredor deserto. E aí caiu em outra esquina. Que a levou a outro corredor que desembocou em outra esquina.
Então continuou automaticamente a entrar pelos corredores que sempre davam para outros corredores".
Desvendar Clarice, eis uma bela exigência desses tempos cinzentos.
Como Olga Savary, maior poetisa nascida em terras paroaras, é preciso - hoje e para sempre - celebrar a Vida,
asa de águia, inútil
atribuir-te o rapto da alegria.
Cravaste garras em Narciso
nesta margem, na outra
desfiaste seu sorriso
e viraste pedra na terceira
empedernindo a lida. Agora
alegria da infância onde?
Asa de águia a velejar a alma
poitaste vida interrompida:
terceira margem".
(Éden-Hades - 1990-1994, p. 287)
Um comentário:
E recusarmos, como Hilda Hilst, o envelhecimento da alma, né? Belo post. Obrigada.
Um abraço.
Postar um comentário