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quarta-feira, 31 de dezembro de 2008
E lá se foram os anéis
Veja-se um único exemplo: Richard Fuld, chairman do falido Lehman Brothers, velho ícone da banca estadunidense, desde 1850 em atividade, ganhou, somente em 2007, cerca de 450 milhões de dólares.
E, como o show precisa continuar, na hora H, veio a mão salvadora do Estado, abrindo as portas da esperança com sua ajuda de alguns trilhões. Só para começar, porque as entranhas do sistema ainda podem guardar muitas turbulências para o ano que principia. Quem sobreviver, verá.
Bombardeio de Ashkelon é ironia trágica
Como é fácil desconsiderar a história dos palestinos, apagar a narrativa de sua tragédia, evitar mencionar uma grotesca ironia sobre Gaza que em qualquer outro conflito estaria entre os primeiros fatos a serem mencionados pelos jornalistas: o fato de que os proprietários originais, legais, das terras israelenses que os foguetes do Hamas agora tomam como alvo vivem em Gaza.
É por isso que Gaza existe: os palestinos que viviam em Ashkelon e nos campos vizinhos -Askalaan, em árabe- foram expulsos de suas terras em 1948, quando Israel foi criado, e terminaram nas praias de Gaza. Eles ou seus filhos, netos e bisnetos estão entre o 1,5 milhão de palestinos amontoados na fossa fétida de Gaza, onde 80% das famílias um dia viveram em terras que hoje pertencem a Israel. Esse é o verdadeiro assunto, em termos históricos: a maioria dos moradores de Gaza não vem de Gaza.
Mas, ao assistir aos telejornais, seria de imaginar que a história começou ontem, que um bando de islâmicos anti-semitas, barbados e lunáticos subitamente irrompeu dos cortiços de Gaza e começou a disparar mísseis contra Israel, um Estado democrático e amante da paz, e por isso atraiu a justa vingança da Força Aérea israelense. O fato de que as cinco irmãs mortas no campo de Jabaliya tenham avós oriundos das mesmas terras cujos proprietários mais recentes as mataram em um bombardeio simplesmente não é mencionado.
Tanto Yitzhak Rabin quanto Shimon Peres disseram, nos anos 90, que desejavam que Gaza simplesmente desaparecesse, e o motivo é compreensível. A existência de Gaza serve como lembrete aos israelenses das centenas de milhares de palestinos que perderam seus lares, que fugiram ou foram expulsos por medo da limpeza étnica que Israel conduziu 60 anos atrás, quando levas de refugiados ainda vagueavam pela Europa e um bando de árabes expulsos de suas terras não preocupava o mundo.
Bem, o mundo deveria se preocupar, agora. Aglomerado em uma das regiões mais superpovoadas do planeta vive um povo que mora em meio ao lixo e aos esgotos e, nos últimos seis meses, vive sem energia elétrica ou comida suficiente, vítima de sanções impostas por nós, o Ocidente. Infelizmente para os palestinos, a mais poderosa voz política -e falo do intelectual Edward Said, e não do corrupto Iasser Arafat (que falta os israelenses devem sentir dele no momento)- se calou, e o sofrimento deles não está sendo exposto ao mundo por seus deploráveis e tolos porta-vozes.
"Trata-se do lugar mais aterrorizante que já visitei", disse Said sobre Gaza. É claro que coube à ministra do Exterior israelense, Tzipi Livni, admitir que "ocasionalmente os civis também têm de pagar", argumento que ela não apresentaria caso as estatísticas sobre mortos fossem revertidas. Se mais de 300 israelenses tivessem morrido, podem ter certeza de que os números seriam enfatizados.
Descobrir que tanto os EUA quanto o Reino Unido se recusam a condenar a agressão israelense e atribuem a culpa ao Hamas não surpreende. A política dos EUA e a de Israel para o Oriente Médio se tornaram impossíveis de distinguir. Como de hábito, os sátrapas árabes, em larga medida bancados pelo Ocidente, optaram pelo silêncio e convocaram uma ridícula conferência de cúpula sobre a crise, que apontará um comitê para preparar um relatório que jamais será redigido.
Pois é assim que funciona o mundo árabe e seus corruptos governantes. Quanto ao Hamas, ele com certeza apreciará o desconforto causado aos potentados árabes e esperará cinicamente que Israel dialogue com ele. E o diálogo acontecerá.
Na verdade, dentro de alguns meses, seremos informados de que Israel e o Hamas vinham conduzindo "negociações secretas" da mesma maneira que um dia ouvimos a mesma notícia sobre Israel e a ainda mais corrupta OLP (Organização para a Libertação da Palestina). Mas, quando isso acontecer, os mortos já estarão sepultados, e nós estaremos enfrentando a crise que surgirá depois da mais nova crise.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
Reforma Ortográfica
Ao todo são cinco grandes concorrências públicas centradas na implantação, conservação e manutenção do sistema viário, no tratamento de resíduos sólidos no lixão do Aurá e na abertura de uma nova estrada por dentro do Parque Ambiental do Utinga. A par da evidente insensatez deste último projeto, trata-se de negócio de muito$ e muito$ milhões, com validade de até cinco anos. Um presente para Papai Noel nenhum botar defeito.
Pois bem: todas as licitações foram transferidas, através de editais minúsculos publicados hoje na imprensa, para os próximos 6 e 7 de janeiro. É que conciliar interesses assim tão diversos pode mesmo exigir mais tempo e, quem sabe, muito mais que a reconhecida lábia de gente que acha que pode tudo.
terça-feira, 30 de dezembro de 2008
A palavra certa
A frase partiu de um cidadão insuspeito, Richard Falk, relator especial das Nações Unidas para os Direitos Humanos nos Territórios Palestinos. Ele está indignado com a ofensiva israelense e, ao mesmo tempo, com a passividade da comunidade internacional diante do massacre.
Na BBC Brasil, a matéria completa.
Piada de brasileiro
Uma vitória do pessoal do colarinho branco, afirma o nada risonho Paulo Henrique Amorim.
Nivelando por baixo
Contra a barbárie, capacetes azuis
A diplomacia internacional trata o assunto como uma banalidade. Pede "moderação", denuncia o caráter "desproporcional" da resposta de Israel, condena o lançamento de foguetes pela guerrilha palestina equiparando-o às toneladas de explosivos despejados pela aviação de caça do mais bem armado país do Oriente Médio. Numa palavra, se depender dos governos, inclusive das nações árabes, o pogrom vai continuar afogando Gaza em sangue.
A nota do Itamaraty é um emblema destes novos tempos. E como regrediu, sob o governo do PT e de Lula, a posição brasileira, outrora muito mais afinada com a luta histórica pela auto-determinação do povo palestino. São sutis - se é que existem - as diferenças entre a visão do Brasil e aquela expressa pela União Européia, por exemplo. O marco político é, todavia, o mesmo e está sob forte influência deste longo período de supremacia mundial de Bush e seus asseclas.
A esperança, como sempre, está nas mãos dos povos. As manifestações contra o massacre se multiplicam em todas as partes, inclusive no interior de Israel, envolvendo árabes palestinos e judeus progressistas. É aí justamente que reside a possibilidade de se conseguir um cessar fogo efetivo, que não pode prescindir do envio imediato de uma força de paz da ONU, os capacetes azuis, para criar uma zona de segurança na fronteira de Gaza. Fora disso estaremos apenas fomentando o palavreado inútil e irremediavelmente cúmplice.
Sujeira para cima do tapete
O Pará participa com três novos proprietários (15,7% do total). São eles: os pecuaristas Romildo Contarini, da Fazenda Santa Luzia, em Ipixuna do Pará (PA), Benedito Neto Faria, da Fazenda Santa Teresa, em São Félix do Xingu, e Isaac Aguiar, proprietário da Fazenda Colônia, em Ulianópolis, este último também envolvido num esquema de aliciamento de trabalhadores para serem esravizados nas fazendas da região.
Uma ampla e detalhada matéria pode ser lida no site do Repórter Brasil.
segunda-feira, 29 de dezembro de 2008
Belo Monte ao sabor da crise. Será?
Página Crítica, ano II
A todos e a todas, muitíssimo obrigado.
Gigantes de papel
Essa montanha de papel move uma indústria cada dia mais concentrada e desnacionalizada. Atuavam no país em 2006, segundo pesquisa da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), da Universidade de São Paulo (USP), 14 editoras estrangeiras, entre elas a gigante espanhola Santillana, que pagou 150 milhões de reais pela Editora Moderna, responsável por 30% da venda nacional de livros escolares.
Democracia de araque
Com apenas 19 anos, Tamar Katz é uma jovem insubmissa. Há mais de 50 dias está encarcerada, em regime de isolamento total. Em sua declaração perante a Justiça, ela afirmou: “não estou disposta a tomar parte em um exército de ocupação [...] não estou disposta a figurar entre aqueles que apontam armas indiscriminadamente contra civis palestinos e não acredito que tais atos tragam alguma mudança, salvo mais antagonismo e violência para a nossa região”.
A Anistia Internacional promove uma campanha mundial pela libertação de todos os prisioneiros de consciência em Isarel. Para participar, clique aqui.
domingo, 28 de dezembro de 2008
Várias pedras no caminho
Algumas pistas sobre esse dilema no Correio da Cidadania.
Democratizar o ciberespaço, já
Por aqui, sob a ditadura da Globo e das demais filiadas da Abert, ainda é tímida a campanha pelo Open Spectrum.
Belém, 1822: Cabanagem em germe
Vejamos o que Antônio Ladislau Monteiro Baena (Compêndio das Eras da Província do Pará, p.373) encontrou quando procurou os dados disponíveis à época. Estava incumbido de montar o "Mapa Statistico" da Província, mas somente achou dois "Allistamentos pouco especificados das duas Freguesias da Cidade" feitos no ano de 1822:
- Freguesia da Sé: 2474 brancos; 450 indianos, pretos e mestiços, e 2942 escravos;
- Freguesia da Campina: 3069 brancos, 659 indianos, pretos e mestiços, e 2777 escravos.
- Total de moradores: 12471
sábado, 27 de dezembro de 2008
Blitzkrieg natalina
Estrondos. Mais de 20 mísseis cortam o céu. F-16 em formação de ataque. Alvos explodem em terra. O som lancinante das ambulâncias estremece as ruas do "gueto" de Gaza, pequena extensão de 360 Km2 e seus 1,4 milhão de habitantes. Missão cumprida? Talvez. Quando a esquadrilha de aviões de combate do Estado de Israel retornar à sua base terá deixado um saldo de dezenas de pessoas mortas e um outro tanto de feridos. No solo sagrado para as três principais religiões monoteístas do planeta, à vista de todos, perpetra-se um ato de violação explícita do direito internacional. Mais do que isso: o saldo da operação que prepara provavelmente uma ofensiva terrestre para os próximos dias, será a ampliação do caldo de cultura de ódio e da vingança sem fim.
Depois de alguns meses de uma instável trégua entre Israel e o Hamas, as últimas semanas foram de forte tensão nos territórios ocupados. A retomada do bloqueio à Gaza, que submete a população civil a um inominável castigo coletivo e o disparo de mísseis pela guerrilha contra as colônias israelenses fincadas em áreas às proximidades dos campos de refugiados palestinos, toldaram o horizonte e deram claramente o sinal: estava aberto o caminho para mais um banho de sangue.
Fontes palestinas falam em 140 mortos, entre eles muitos civis. Israel, por sua parte, justificará seu ato de agressão como "exercício do direito de defesa". E o mundo assistirá, impotente e cúmplice, que o extermínio prossiga, projetando seu signo de violência e barbárie para o Ano-Novo que se inicia.
Atualização das 20h22:
A carnificina foi muito maior ainda. Pelo menos 225 palestinos mortos e 300 feridos. E Israel, com respaldo incondicional do moribundo governo Bush, promete mais, muito mais. A Palestina ensangüentada pode cair numa voragem de sangue e terror nos próximos dias, enquanto a comunidade internacional se limita a lançar notas diplomáticas trazendo condenações tão polidas quanto inúteis.
Dialética da palavra que sobrevive ao terror
"(...)
Bombardeio em Gomel. Uma vaca, bombas zunindo, fogo, mulheres (...). O forte cheiro de perfume - de uma farmácia atingida pelo bombardeio - bloqueou o mau cheiro dos incêndios, só por um instante.
A imagem de Gomel em chamas nos olhos de uma vaca ferida.
As cores da fumaça. Tipógrafos tiveram de imprimir o jornal sob a luz de prédios em chamas.
(...)
Manhã. Fomos ao hospital de campanha para ver Utkin, cujos dedos havim sido despedaçados por estilhaços. O dia estava nublado e chuvoso. Havia cerca de novecentos homens feridos em uma pequena clareira entre álamos. Havia panos ensanguentados, pedaços de carne, gemidos, gritos contidos, centenas de olhos tristes e sofridos (...) Homens feridos continuavam chegando, todos eles encharcados de sangue e chuva".
Trecho do livro "Um escritor na guerra: Vasily Grossman com o exército vermelho, 1941-1945 / editado e traduzido de russo para o inglês por Antony Beevor e Luba Vinogradova : tradução Bruno Casotti. Objetiva, 2008. p.36-50.
sexta-feira, 26 de dezembro de 2008
Aqui se faz. Aqui se paga
Veja mais informações no site da Procuradoria da República no Pará.
Segura essa, Jack Bauer
Até agora pouco se sabe sobre o conteúdo que os discos rígidos preservam, mas supõem-se que tragam backups das movimentações - inclusive das paralelas - que o grupo Opportunity realizou nos últimos anos. Há quem jure também que, protegidos por um sistema de criptografia reforçada, lá estejam armazenadas planilhas revelando o pagamento de propinas para meio mundo.
Caso os técnicos a serem designados pela Justiça dos EUA obtenham sucesso, uma parte importante das artimanhas de Dantas e seus asseclas poderá vir à tona. O que, de antemão, deve provocar calafrios em muita gente poderosa. De todos os Poderes da República.
Depressão à vista
A Organização Internacional do Trabalho (OIT) estima que no próximo ano serão fechados 20 milhões de empregos no mundo todo, sendo quase 1,8 milhão somente na América Latina, segundo cálculos da Cepal.
Déjà-vu
Pacientes padecendo horas sem atendimento, gritos de dor, parentes em desespero. Quantas vezes essas cenas de horror já se repetiram nos Prontos-Socorros de Belém, sobretudo em momentos críticos e absolutamente previsíveis, como o Natal?
Diante das cenas chocantes que a imprensa veiculou no final da tarde de ontem, 25, a Secretaria Municipal de Saúde (Sesma) promete, em nota oficial, investigar os "contratempos" ocorridos, já que a demanda foi além do esperado, e - pasmem - também apurar "um problema na troca de plantão".
O que a população colheu durante as horas de pânico nos hospitais e unidades de saúde do município não é fruto do acaso, nem mesmo de uma ocasional imprevidência. Decorre, isto sim, de um plano meticuloso de implantação de um caos com todas as características de crime.
Não é preciso grandes investigações para se chegar aos culpados. Todos livres, leves, soltos e esbanjando saúde. Inclusive, saúde financeira, porque nada acontece por acaso, não é mesmo?
O Embaixador
quarta-feira, 24 de dezembro de 2008
Parada de Natal
Boas Festas a todos e a todas.
Cadeia neles
Um detalhe, entretanto, pode dificultar o trabalho da Polícia Federal. Apesar de ter sido descoberto no último dia 17, é provável que o furto dos 65 exemplares de 40 títulos tenha sito efetuado em etapas, em vários dias ao longo deste ano, o que revela uma absurda negligência na guarda de bens tão valiosos.
Resta torcer para que os objetos furtados não tenham ainda saído do país e que possam ser recuperados e devolvidos ao seu devido lugar, sem demora.
2 + 2 = 5
Enquanto isso, os mais de cem mil hectares de terras improdutivas do país vão atiçando a gula do agronegócio, reconvertidos em território estratégico para o avanço da cana, do eucalipto e da soja, além da pecuária e de outras atividades vocacionadas para o mercado externo.
Dr. Fantástico
De qualquer forma, pelo menos teremos feito feliz - muito feliz - o seleto grupo de grandes empresários franceses. Isso sem falar no ativo lobby interno, que venceu uma contenda comercial que se arrastava há anos e que fez tecer armas grandes corporações dos Estados Unidos e Rússia.
Joyeux Noel, e um brinde aos que se deram bem.
terça-feira, 23 de dezembro de 2008
À sombra do desastre
Os argumentos do Ministério Público Estadual contra o licenciamento, vencidos pelo rolo compressor da nada santa aliança entre o PT e a Vale, podem ser consultados aqui.
Já os quase 40 MB com o palavrório constante no EIA-RIMA elaborado pelos consultores da Vale está disponível para download no site da Sema.
A leitura atenta dos dois documentos mostra o antagonismo entre projetos de desenvolvimento distintos, muito além do discurso fácil e das jogadas ilusionistas sustentadas pelo marketing governamental.
segunda-feira, 22 de dezembro de 2008
Terra Vermelha
Espremidos por cercas que dilaceram seus corpos e sua memória, são milhares e milhares que se emparedam com um presente de miséria e um horizonte sem futuro.
Fome, desnutrição, alcoolismo, violência, o suicídio como uma janela para escapar ou para manter o círculo de ferro que quer condená-los à extinção.
Os Guarani-Kaiowá resistem, teimosos, obstinados. Sua saga foi impressa em película e ganhou o mundo. "Terra Vermelha", de Marco Bechis, concorreu neste ano ao Leão de Ouro no Festival de Veneza. Foi muito aplaudido e causou intensa repercussão na mídia especializada, que soube valorizar essa co-produção entre Brasil e Itália que retrata o drama - e a luta - deste povo que se nega a morrer lenta e penosamente.
No mês em que se comemora o 60o aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos, mais do que nunca, a sociedade brasileira deveria exigir o fim desse etnocídio.
O Estado responde com medidas paliativas de sempre. Frágeis, tímidas, envergonhadas demais para desviar o curso de mais esta tragédia anunciada.
Egon Dionísio Heck, assessor do CIMI, conta essa história. Vale a pena ler, refletir e agir.
Um poço sem fundo
Quando os principais arautos do Estado mínimo e da completa desregulamentação da economia, passam a clamar por intervenção estatal é um evidente sinal de que a crise saiu do controle.
Para saber mais sobre o impacto da crise nos planos de investimento de multinacionais brasileiras, veja esta elucidativa matéria publicada na edição de hoje de O Globo.
Mudou por quê?
As razões que ensejaram a mudança - despropositada e incomum - permanecem um completo mistério.
Os Libertadores da América
sábado, 20 de dezembro de 2008
Dialética do poder e de seus perigosos homens
Numa dessas noites, Deep Throat observara como a política se havia infiltrado em todas as camadas governamentais - a Casa Branca de Nixon se apossara com pulso forte de todas as repartições do governo. Assistentes-junior da Casa Branca davam ordens nos mais altos níveis do serviço público. Certa vez, Deep Throat se referira a isto como a "mentalidade do aguilhão". e mencionada a disposição dos homens do Presidente para jogar sujo, sem meios-termos, indiferentes aos efeitos que uma política de retaliação pudesse ter sobre o governo e sobre o país. Não havia amargura em seu tom de voz. Woodward percebia nele a resignação de um homem cujo vigor se esvaíra em muitas batalhas. Sempre dizia menos do que sabia. Jamais tentava mostrar seus conhecimentos ou exibir sua importância. Woodward considerava-o um mestre da sabedoria. Era imparcial e parecia esforçar-se sempre por encontrar a versão mais aceitável da verdade. A Casa Branca de Nixon o preocupava.
- Sâo todos desleais e impenetráveis - dissera repetidas vezes. Tampouco acreditava na imprensa. - Não gosto de jornais - dizia abertamente. Detestava inexatidão e superficialidade".
Carl Bernstein e Bob Woodward. "Todos os homens do presidente", 1978, Livraria Francisco Alves Editora, p.108. Deep Throat, a fonte decisiva no escândalo Watergate, permaneceu anônima durante mais de três décadas. A identidade de William Mark Felt, ex-diretor do FBI, só foi revelada recentemente. Ele faleceu ontem, aos 95 anos.
Os donos do mundo
Claro, trata-se de uma alegoria. Talvez nunca tenha existido esse encontro em termos formais. O fato, porém, é que está comprovada a estreita articulação entre empresas como Monsanto, Dupont, Syngenta, Basf, Bayer, Dow, Cargill, Bunge, Louis Dreyfus e ADM para controlar o estratégico setor da produção de agrotóxicos e de sementes geneticamente modificadas. E mais ainda, não há como desconhecer que este "consórcio" atua de forma descarada para impor seus interesses sobre as políticas nacionais dos países dependentes. E, infelizmente, têm alcançado muito sucesso, como bem demonstram o avanço desse segmento no Brasil nos anos recentes.
Esta história - de lucros fabulosos com sua contrapartida em termos de aumento da probreza, fome e dependência - é contada, em seus escabrosos detalhes, por Sílvia Ribeiro, pesquisadora de renome mundial, em entrevista publicada na revista eletrônica Humanitas Unisinos.
Fora dos trilhos
Tal qual sua congênere francesa, a multinacional alemã está enrolada, segundo o Ministério Público de São Paulo, em tenebrosas transações de mais de R$ 1 bi com a CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) durante a gestão do tucano Geraldo Alckmin, em 2000.
sexta-feira, 19 de dezembro de 2008
Inteligência policial: quando e para quem?
A prisão do primeiro integrante da quadrilha que vitimou o médico Salvador Nahmias foi, sem dúvida, um ponto para a Polícia Civil. Todavia, muitas perguntas restam sem resposta e pairam sobre a suposta eficiência do aparato policial do governo do Estado.
Primeiro: por que a tal "rede de informantes" só é acionada com êxito após a ocorrência de um crime de ampla repercussão, geralmente envolvendo vítima da classe média alta ou de algum círculo da chamada elite?
E, segundo: a polícia teria em seu poder um mapeamento prévio das principais quadrilhas de assaltantes a bancos ou do chamado crime da "saidinha". Por que esses bandos não são desarticulados e seus membros presos e entregues à Justiça antes que sejam consumados crimes de morte?
A cúpula da Segurança do Estado, que se move por espasmos e empurrada por uma dolorosa sucessão de tragédias, bem que poderia chamar para si a busca destas e de outras respostas, antes que o descrédito e o clima de pânico se consolidem de vez.
No tempo das diligências
A oposição tucana ameaça o governo Ana Júlia (PT) com uma CPI para investigar supostos escândalos na gestão do Hangar Centro de Convenções.
O líder do governo na Assembléia Legislativa, o petista Airton Faleiro, hoje no Diário do Pará, rebate: "Nós temos muita munição para enfrentar os tucanos". Caso a ameaça do PSDB se confirme, a base aliada reagiria divulgando o resultado das auditorias que o governo atual mandou realizar nas contas de seu antecessor, Simão Jatene.
Ao que parece, o distinto público só terá acesso às pretensas mutretagens do tucanato se os petistas (e seus aliados, muitos dos quais também aliados e ativos integrantes do consórcio que imperou no Pará por longos 12 anos) forem efetivamente emparedados com uma enxurrada de ataques abaixo da linha da cintura.
Auditorias e denúncias variadas somente se prestam como armas preventivas, salvaguardas contra achincalhes morais de ocasião, mesmo que, em tese ou efetivamente - talvez nunca se saiba - todos ou alguns desses fatos possam ter fundamentos concretos e objetivos.
Mais ainda: se os auditores do governo do PT encontraram realmente ilegalidades e desvios de recursos públicos em contratos anteriores a 2007, e mantém esse "arsenal" em alguma gaveta palaciana para que sirva de "argumento" contra eventuais opositores, estaria bem configurada a prática de crime de prevaricação.
Nada mais justo, decente e necessário que estes fatos venham à luz imediata e incondicionalmente.
Pressionar é preciso. E dá resultado
Sob forte pressão de ambientalistas, o governo Lula recuou. Parcialmente, é verdade, mas ainda assim voltando atrás dos aspectos mais vergonhosos do decreto 6.686, que suspendia por mais um ano o embargo das áreas desmatadas ilegalmente, entres outras medidas que representam um verdadeiro prêmio à bandidagem agro-florestal. Com a nova medida anunciada na segunda-feira (15), ficam excluídas dos efeitos do decreto todas as propriedades que integram o bioma Amazônia.
Apesar do recuo, segundo o Greenpeace, ainda foram mantidas em vigor medidas polêmicas como a anistia às multas, que permanece valendo até dezembro de 2009. E, é evidente, não há justificativa para se dar refresco aos desmatadores de outros biomas, como o Cerrado, por exemplo, a cada dia mais agredido pelas frentes de expansão da soja e da pecuária.
Porto inseguro
Raul Porto é irmão do deputado estadual Joaquim Passarinho (PTB). Seu nome tem frequentado o noticiário de vários escândalos nos últimos meses, sempre envolvido em falcatruas relacionadas a planos de manejos fajutos e falsificação de documentos para facilitar o desvio de milhares e milhares de metros cúblicos de madeira, cuja origem, via de regra, é a devastada floresta nativa amazônica.
quinta-feira, 18 de dezembro de 2008
As possibilidades da crise
Segundo a Folha de São Paulo de hoje (só para assinantes), Jirau e Santo Antônio, no Rio Madeira, registram a fuga de potenciais investidores, assustados pela escassez de crédito e, ao mesmo tempo, desconfiados de que essas estratégicas obras do PAC poderão mesmo produzir enormes desequilíbrios na região. Muitos bancos, como o Santander e o Itaú relutam em associar suas marcas a um desastre anunciado.
Não por coincidência, mal começou a ser construída, a hidrelétrica de Santo Antônio já provoca danos, com a mortandade de 11 toneladas de peixes. O ministro Carlos Minc (Meio Ambiente) simula surpresa e indignação, mas é claro que ele sabia que a licença concedida pelo Ibama, às pressas e sob forte pressão do governo Lula, trazia no ventre essa e muitas outras ameaças, que desgraçadamente começam a se concretizar.
Lusitana roda (da fortuna)
Que o governo municipal é o principal responsável pela desestruturação do sistema, chega a ser uma obviedade.
Que o povo mais pobre, sobretudo a enorme massa de desempregados e trabalhadores informais, pagará a conta de mais um tarifaço – dos atuais R$ 1,50 para R$ 1,80 -, é outra conclusão lógica.
E pouco importa se a nova e salgada tarifa será mesmo homologada antes ou depois do Natal. De qualquer forma, será sempre um presente à incompetência e à esperteza. Um presentaço, aliás.
quarta-feira, 17 de dezembro de 2008
Empacou
A liminar jogou areia nos olhos de gente muita poderosa, a começar pelo Planalto, que moveu céus e terras para viabilizar a transação, passando pelos clãs Jereissati e Andrade Gutierrez - controladores da Oi, e pelo suspeitíssimo Daniel Dantas (Opportunity), interessado na bagatela de US$ 1 bi a título da venda de sua participação na quase finada BrT.
Braços cruzados
Tranca em porta arrombada
O resultado será uma maior desnacionalização desse setor tão estratégico para o futuro do país. Desnacionalização acelerada desde 1997, no auge do tucanato, e que só fez se aprofundar na era Lula. Afinal, o capital privado já responde por 67% do capital social da empresa, sendo que 40% são controlados por investidores estrangeiros.
Desfibrilador
Entrementes, os integrantes do Comitê de Política Monetária (Copom), no Brasil, continuam a enxergar, contra todas as evidências, a persistência de riscos inflacionários, mantendo, aqui, a maior taxa do mundo, 13,75% ao ano.
Com os primeiro sinais da recessão que se prenuncia para 2009, com desaceleração da produção e do emprego e a primeira queda da arrecadação federal em vários anos, era de se esperar bom senso. Ocorre que alguém tem que lucrar com a crise, enquanto o desastre se desenha no horizonte.
terça-feira, 16 de dezembro de 2008
O conto do Faraó
O nome do "Faraó" de Wall Stret foi revelado. Ele é o gerente dos fundos Bernard Madoff, um norte-americano de 70 anos, ex-presidente do conselho de administração do Nasdaq e um dos mais respeitados consultores do mercado de capitais.
Cianureto fundiário
Diagnósticos corretos podem levar a terapias capazes de abreviar a vida do paciente. Dito de outra forma: o caos fundiário, visto em toda sua extensão e profundidade, pode servir de senha para um processo ainda mais feroz e destrutivo de apropriação privada das terras da União. É isso que sinalizam as últimas medidas do governo federal, como a MP 422, que triplicou o tamanho das áreas que poderão ser legalizadas sem licitação. Ou muitas daquelas que estão em debate em grupo de trabalho interministerial formado especificamente para reformar a legislação existente. Não por acaso, os técnicos atuam sob estrita vigilância da czarina Dilma Rousseff.
Guerra suja
Para os investigadores da OEA, o que aconteceu no Araguaia foi "foi uma política de extermínio de dissidentes políticos”.
segunda-feira, 15 de dezembro de 2008
Palavras que o vento não leva
Um trecho do discurso do deputado, hoje no epicentro de uma denúncia de violência sexual contra uma criança de 9 anos, pode dar pistas sobre o que ele pensa sobre o assunto:
"(...)
O deputado alegou que Bob Terra namorava normalmente a adolescente e que a relação sexual entre eles era conseqüência desse namoro. “A moça foi levada a exame de conjunção carnal e foi visto que a perda de virgindade dela não era recente, já datava de muito tempo atrás”, apontou Sefer, para quem o problema reside no Código Penal, que, na opinião do parlamentar, precisa ser revisado.
“Quantas mulheres de 17, de 16 anos, já têm vida sexual normal? Todo mundo sabe disso. Se algo está errado são as nossas convenções sociais, o nosso costume social”, disse Sefer".
Para ler a íntegra da notícia e tirar suas próprias conclusões, clique aqui.
A ameaça que vem de cima
Segundo o Estadão, Agnelli admitiu que nos últimos dias conversou com o presidente Lula sobre a flexibilização das leis trabalhistas. "O governo e os sindicatos precisam se convencer da necessidade de flexibilizar um pouco as leis trabalhistas: suspensão de contrato de trabalho, redução da jornada com redução de salário, coisas assim, em caráter temporário", afirmou. Quase como uma piada - de evidente mau gosto - ele se declarou disposto a reduzir, "temporariamente", seu próprio salário. Um gesto patriótico, sem dúvida, se não fosse uma cusparada na face dos milhares de demitidos da própria Vale e de outros grandes conglomerados que não vacilam em atingir dura e impiedosamente os trabalhadores, desprotegidos e sem defesa.
Diante da crise que se aprofunda, a solução não pode ser outra: sangrar os direitos trabalhistas, transferir o ônus da farra especulativa para o mundo do trabalho, preservar - e ainda se possível ampliar - a escalada de acumulação dos rentistas nacionais e estrangeiros.
Roger Agnelli age e pensa com a arrogância dos que sempre mandaram. Sua tarefa parece ser facilitada pela quase total falta de compostura entre os que possuem mandato popular, amofinados e microscópicos diante de um cenário que exige fidelidade ao povo. E isso, todos sabem, é cada vez mais difícil de encontrar.
domingo, 14 de dezembro de 2008
Amizade furta-cor
Para os de memória curta, Jatene foi secretário de planejamento no primeiro governo Jader (1983-1985). Depois trilhou vários caminhos federais, como segunda pessoa na hierarquia dos ministérios que a Nova República presenteou a Barbalho.
Porém, ainda parece ser cedo para afiançar que estarão juntos em 2010. Apenas reconstroem, com habilidade e destreza, as pontes que o predomínio almirista havia dinamitado. E, cada um a seu modo, acumulam forças para a batalha decisiva que se avizinha.
Dialética da resistência que atravessa os tempos
Outros grupos de tubinambás, no Pará, aderiram à guerra e tentaram expulsar os moradores do novo estabelecimento de Francisco Caldeira Castelo Branco. Esse comandante enviou um de seus oficiais, Diogo Botelho, para esmagar aquela "rebelião" de gente que tentava defender sua terra natal da invasão. Botelho marchou contra uma das maiores aldeias, chamada Cuju, e decorridas algumas horas do ataque que ele desfechou "se não viam nela mais que ruínas, e cadávares" (Bernardo Pereira de Berredo em Annaes Históricos do Estado do Maranhão).
(...)
Os tupinambás se reagruparam e em 7 de janeiro de 1619 tentaram um ousado ataque frontal à nova fortaleza de Belém. Atacaram com desesperada coragem e conseguiram matar ou ferir alguns defensores. Mas a barragem de fogo do forte era demasiado poderosa. Um tiro de arcabuz matou o cacique tupinambá cujo nome era Cabelo de Velha. Os índios suspenderam o assalto e se internaram nas matas.
Agora os portugueses estavam prontos para empreender uma guerra de aniquilação dos tubinambás".
John Hemming (1935). Ouro Vermelho: A Conquista dos Índios Brasileiros. Editora da Universidade de São Paulo, 2007, p. 318-319).
sábado, 13 de dezembro de 2008
Todos os nomes
O próprio deputado rompeu o mutismo e começou a dar lacônicas respostas à imprensa. Já não era possível manter o estranho silêncio que durante mais de uma semana envenenou o clima político no parlamento paraense. Como era de esperar, ele jura inocência e se diz vítima de uma armação. Diz também que um não-identificado "setor da imprensa" tentou extorqui-lo em R$ 800 mil para abafar o escândalo.
Pois bem. A hora da verdade finalmente está chegando. O deputado acusado terá oportunidade para apresentar seus argumentos e deverá oferecer à sociedade uma versão que tente desmentir a forte impressão de que tenha quebrado o decoro do cargo que ocupa, sem prejuízo da continuidade das apurações policiais.
Igualmente, para que não se consolide a sensação de que, mais uma vez, está se erguendo uma cortina de fumaça para desviar o foco das investigações, o deputado democrata tem o dever moral de apresentar os nomes e sobrenomes de quem teria praticado contra ele o crime de extorsão. Quem são os autores da suposta chantagem? Que veículo de comunicação seria utilizado para a concretização do crime?
Mas tudo isso é acessório. O fundamental é saber se são verdadeiras as denúncias do hediondo crime sexual contra uma criança indefesa. Quando e em que condições essa prática odiosa teria ocorrido?
Que apareçam todos os detalhes escabrosos do caso e que nenhum sigilo seja alegado para proteger eventuais praticantes deste tipo de crime que rebaixa o ser humano a mais abjeta condição de vilania e torpeza.
Que todos os nomes, de autores e cúmplices, de diferentes níveis e escalões, também sejam revelados. Ou se faz isso com urgência e inédito rigor, ou o Pará será mais uma vez enxovalhado como um território livre para qualquer tipo de barbárie.
sexta-feira, 12 de dezembro de 2008
Carrascos voluntários
Punição para o dia de São Nunca
Mais uma previsível vitória da bancada ruralista, agora vitaminada pelo muito conveniente discurso da hecatombe agrícola que vem chegando - segundo dizem - no cangote da crise global.
quinta-feira, 11 de dezembro de 2008
Contagem macabra
Justiça de cocar?
Mas que ninguém se iluda: a batalha está ainda longe do fim.
O czar da banca
A manutenção da imoral taxa básica de juros - sinal de que os de sempre continuarão a lucrar com a crise que se abre como um alçapão sem fundo - revela o quanto a democracia brasileira é mesmo um gigantesco faz-de-conta.
quarta-feira, 10 de dezembro de 2008
Flor de Lótus
The Crow
Um deputado estadual suspeito de molestar crianças. Um pedófilo em pleno Palácio da Cabanagem. E... nada, absolutamente nada acontece. Uma semana após a denúncia filtrada pela principal coluna de opinião do jornal da família Barbalho - o Diário do Pará - e reina o silêncio. Aquele silêncio muito próximo da estupidez, como nos ensina e alerta a Proclamação de La Paz, desde os idos de 1809 e recolhida por Eduardo Galeano, na epígrafe das Veias Abertas da América Latina.
Quem será este parlamentar, que desonra seu mandato e conspurca a Casa que, em tese e só em tese, representa a vontade soberana dos paraenses? Quando é que seu rosto sairá das sombras, desvelando finalmente uma história recheada de pus e sangue?
Nem todo o silêncio, mesmo que supostamente imposto para preservar as vítimas e a presunção de inocência dos acusados, pode durar para sempre.
Mais cedo ou mais tarde, pouco importa, chegará o dia em que o nome do indivíduo será conhecido. Suas vestes, hoje cobertas por uma aparente capa de alvura - seria um jaleco? - aparecerão como de fato são: sujas, marcadas para sempre por uma podridão que já não pode ser varrida para baixo do tapete.
A hora da estrela (para sempre)
Onde estivestes de noite, Clarice? Em que labirintos de palavras e significados te perdestes?
"(...) Então a senhora seguiu por um corredor sombrio. Este a levou igualmente a outro mais sombrio. Pareceu-lhe que o teto dos subterrâneos eram baixos.
E aí este corredor a levou a outro que a levou por sua vez a outro.
Dobrou o corredor deserto. E aí caiu em outra esquina. Que a levou a outro corredor que desembocou em outra esquina.
Então continuou automaticamente a entrar pelos corredores que sempre davam para outros corredores".
Desvendar Clarice, eis uma bela exigência desses tempos cinzentos.
Como Olga Savary, maior poetisa nascida em terras paroaras, é preciso - hoje e para sempre - celebrar a Vida,
asa de águia, inútil
atribuir-te o rapto da alegria.
Cravaste garras em Narciso
nesta margem, na outra
desfiaste seu sorriso
e viraste pedra na terceira
empedernindo a lida. Agora
alegria da infância onde?
Asa de águia a velejar a alma
poitaste vida interrompida:
terceira margem".
(Éden-Hades - 1990-1994, p. 287)
terça-feira, 9 de dezembro de 2008
Liquidação natalina
Algo estranho, mas ao mesmo tempo sintomático, que um player mundial afirme com todas as letras que administra sua produção "de acordo" com a "demanda de curto prazo". Ora, enquanto transfere a conta para seus desprotegidos trabalhadores, o que a Vale faz é diminuir a oferta para forçar melhores condições no inevitável realinhamento (para baixo) do preço de seus produtos. No curtíssimo prazo, sem dó nem piedade.
Antes tarde do que nunca
Proposta pelo deputado Ivan Valente (PSOL-SP), agora resta saber se as grandes legendas da Casa terão interesse na indicação dos demais membros da comissão.
Malha fina
Para quem não se recorda, Quadrado é réu do rumoroso e paquidérmico processo do Mensalão, que se arrasta no Supremo Tribunal Federal (STF), sem qualquer previsão de término.
segunda-feira, 8 de dezembro de 2008
Makunaima grita
A Folha de São Paulo de hoje antecipa o que seria a tendência da maioria dos ministros: a busca de um "meio-termo" entre as posições extremadas. Ou seja: nem a confirmação da homologação em terras contínuas, como exigem os indígenas, nem a demarcação em ilhas, como defendem os últimos que insistem em continuar grilando as áreas da União. Se a reportagem estiver correta, um duro e profundo golpe está sendo preparado, não só contra os 18 mil índios de Roraima, mas contra todas as nações indígenas brasileiras, que sofrerão as consequências da abertura de um perigoso precedente.
Mais informações aqui e aqui.
Más companhias
Sinal de que a política externa tem dado uma sensível guinada nos últimos tempos, o Itamaraty acaba de anunciar que Brasil não assinará o tratato contra fabricação, uso e venda de bombas de fragmentação. Com essa inusitada posição, optou-se por dizer não aos 92 países que já subscreveram o tratado, preferindo a suspeitíssima companhia dos Estados Unidos, Israel, Rússia, Índia e Paquistão.
As bombas de fragmentação são armas terríveis, cujo histórico de utilização remete a incontáveis massacres de populações civis, as principais vítimas desse odioso artefato. No mundo inteiro, mas particularmente no Líbano, Iraque e Afeganistão, milhares de civis pereceram vítimas destas armas mortíferas, com o selo de garantia do Pentágono. Uma barbárie que a comunidade internacional, com enorme atraso, busca agora banir definitivamente.
Já é tempo para que a sociedade brasileira acorde para o que se passa nas entranhas da outrora pacifista diplomacia nacional. Pouco a pouco a lógica dos interesses mercantis vai se impondo. Sob as bênçãos de Lula, pontifica a perigosa hegemonia da dupla Nelson Jobim (Defesa) e Mangabeira Unger (Assuntos Estratégicos), animadores de uma platéia militar cada vez mais assanhada.
domingo, 7 de dezembro de 2008
Sujo, caro, insustentável
Na contramão das preocupações internacionais com o aquecimento global, segue a toda o cronograma de implantação da Usina Termelétrica da Vale, em Barcarena, movida a carvão mineral. A polêmica licença prévia foi concedida, contra o bem fundamentado voto do Ministério Público Estadual, pelo Conselho Estadual do Meio Ambiente (Coema), no mês passado.
A aliança da Vale com o governo Ana Júlia (PT) garantiu os votos necessários à aprovação, sob o falacioso argumento de que é isso ou o fantasma do apagão energético nos encontrará, desprevenidos e impotentes, na virada da década.
Resta torcer para que a crise financeira que já se prenuncia acabe adiando, por vias transversas, mais este desastre anunciado.
Brincando de Armagedom
Dialética da palavra que constrói a esperança
Caio Prado Junior (1907-1990), historiador e geógrafo brasileiro. A Revolução Brasileira (1966) em Clássicos sobre a Revolução Brasileira, Expressão Popular, 2000, p.30-31
Jornalismo de balcão
Entre uma matéria e outra muita água rolou por dentro das turbinas milionárias de uma imprensa que já perdeu, há tempos, o respeito por si mesma.
sexta-feira, 5 de dezembro de 2008
Armado e (muito) perigoso
Representante de obscuros e inconfessos interesses, Mangabeira veio para ficar. Ele é a face verdadeira do governo Lula, sem maquiagem e despido de veleidades que remetem ao já distante passado de esquerda da legenda que levou o atual presidente ao poder.
quinta-feira, 4 de dezembro de 2008
Uma ninhada de ratinhos
O motivo é simples: as principais mudanças, aquelas que impedirão que políticos continuem a traficar, impunemente, canais de rádio e TV pelo Brasil afora, são apenas indicativos. As restrições ainda deverão virar projetos de emendas constitucionais (PECs), se obtiverem a assinatura de 171 deputados - e aí sim iniciar uma longa - e incerta - tramitação, até que em duas votações, na Câmara e no Senado, elas sejam aprovadas por três quintos do total de votos, 308 dos 513 deputados, e 49 dos 81 senadores. Nada mais improvável, portanto.
Adivinhe quem vai pagar a conta?
O ministro Carlos Luppi (Trabalho) reconheceu que o desemprego irá aumentar muito no próximo ano. "O primeiro trimestre será brabo", disse ele diante dos primeiros sinais de desaquecimento na oferta de emprego na indústria. Os saldos na geração de postos de trabalho - 554.440 postos criados, um aumento de 39% em relação a igual período de 2007, já ficaram no passado, nem dá para fazer festa. De agora em diante, as previsões sinalizam para demissões em massa, que começam nos setores mais dinâmicos da economia e, em seguida, contaminam todo o resto.
Apesar de todos os sinais, o governo Lula permanece priorizando o socorro aos bancos e grandes empresas, torrando bilhões de reais das reservas. Proteção ao trabalho? Por enquanto nada. E sem a indispensável pressão do movimento sindical, em sua maioria preso à camisa de força da domesticação, o futuro imediato tende a ser pior, muito pior.
Pode ser um bode. Ou não
Pode ser uma jogada, uma armação, para que o projeto original, que vem sendo bombardeado por entidades ambientalistas e por setores governistas, estes, como se sabe, sempre vacilantes e tíbios, comece a ser visto como um "mal menor". Pode ser, mas convém não duvidar das sempre ofensivas intenções de quem já está acostumado a mandar desde muito. Quem sabe, desde que as primeiras naus da Coroa Portuguesa deram em nossas praias.
quarta-feira, 3 de dezembro de 2008
Último círculo do inferno
Lá, em 8.700 presídios, mais de 2,5 milhões de detentos comem o pão que o diabo amassou, numa rotina de sevícias, humilhações e escravidão contemporânea. A cruel exploração da mão-de-obra dos internos, em padrões extremos que fazem inveja aos padrões oferecidos pelos "gatos" nos rincões da Amazônia, é apenas uma das muitas facetas de um fenômeno de privatização, que pouco a pouco e na surdina, vai sendo exportado para a periferia, inclusive para o Brasil, sob o conveniente disfarce da Parceria-Público-Privada (PPP).
Para saber mais, leia a instigante reportagem de Memélia Moreira, de Orlando, Estados Unidos, para o Brasil de Fato desta semana.
Tacão de ferro
As águas vão rolar
Acredite se quiser
Basta querer, mas é aí que reside o problema. Diante da atual composição do parlamento nacional, com destaque para o florescente baronato de políticos que fizeram (e ainda fazem) fortunas a partir do tráfico de influências na área da comunicação, o relatório da deputada Maria do Carmo Lara (PT-MG) tem escassas chances de ser aprovado.
terça-feira, 2 de dezembro de 2008
É só o começo
De qualquer forma, é no mínimo estranho que, até agora, as duas mais importantes indicações da equipe de Obama apontem para o passado: no poderoso departamento de Estado, Hillary Clinton (que traz a tiracolo o marido Bill e sua intrincada rede lobbies do complexo militar industrial estadunidense); na Defesa, com a responsabilidade de continuar conduzindo as guerras do Iraque e Afeganistão, Robert Gates, que há dois anos empresta seus discutíveis talentos no desastroso governo Bush.
Quem deve, teme
Agora vai?
Perigo real e imediato
"Via Metrópole", neste caso, é um simples nome de fantasia, nada tendo a ver com o Plano Diretor de Transporte Urbano (PDTU) ou com o trabalho dos técnicos japoneses da JICA, tantas vezes ressuscitado nos períodos eleitorais. É algo novo, surgido da inesgotável fonte de intervenções urbanas tão atrapalhadas quanto nocivas ao presente e futuro da capital, mas que devem distribuir dividendos. Pelo menos, para os amigos do rei e suas obscuras empresas com seus grandes contratos.
Com a palavra, por favor, os órgãos de controle ambiental e o Ministério Público, enquanto ainda há tempo para impedir que mais um crime se concretize. Quem se habilita?
Busy. Very busy
domingo, 30 de novembro de 2008
Loteamento na Lua. Há quem acredite
Seria apenas manifestação de ingenuidade, mas é coisa muito mais séria. O governo Lula não está em início de mandato. Ao contrário, em breve completará seis anos de gestão, tendo consumido a metade de seu segundo período. À luz de tudo que aconteceu neste tempo, é inconcebível que esses dirigentes ainda acreditem na possibilidade de uma alteração substancial na linha estratégica de um governo que desde seus primeiros atos fez questão de romper – na prática e simbolicamente – com os compromissos programáticos que haviam conduzido sua eleição em 2002, em meio a uma enorme expectativa de mudanças sociais, econômicas e políticas.
Apesar de acertar no diagnóstico e, em geral, nas medidas propostas, a carta dos movimentos possui um pecado original, isto é, o de se eximir de quaisquer contrastes críticos aos descaminhos do governo – que pratica justamente o oposto do que os signatários do manifesto dizem professar. Ao agir assim, acabam servindo como instrumento de uma manobra ilusionista, na qual o governo tenta manter vivo o verniz de uma inexistente participação popular.
Em resumo, viraram a cereja do bolo. Por opção própria e consciente, diga-se.
sábado, 29 de novembro de 2008
Dialética da palavra de combate
Troa na praça o tumulto!
Altivo píncaros - testas!
Águas de um novo dilúvio
lavando os confins da terra.
Touro mouro dos meus dias.
Lenta carreta dos anos.
Deus? Adeus. Uma corrida.
Coração? Tambor rufando.
Que metal será mais santo?
Balas-vespas nos atigem?
Nosso arsenal é o canto.
Metal? São timbres que tinem.
Desdobra os lençóis dos dias
cama verde, campo escampo.
Arco-íris arcoirisa
o corcel veloz do tempo.
O céu tem tédio de estrelas!
Sem ele, tecemos hinos.
Ursa-Maior, anda, ordena
para nós um céu de vivos.
Bebe e celebra! Desata
nas veias da primavera!
Coração, bate a combate!
O peito - bronze de guerra.
1917"
Tradução: Haroldo de Campos
Vladimir Maiakóvski (1893-1930), maior poeta russo moderno. Poemas, 6a edição, 1997, p.83-84. Edição organizada por Augusto e Haroldo de Campos e Boris Schnaiderman.