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sexta-feira, 25 de janeiro de 2008
Directorium Inquisitorum
É pouco provável que os policiais civis lotados na delegacia de Monte Dourado, distrito de Almerim, no Baixo Amazonas paraense, tenham lido Directorium Inquisitorum (Manual dos Inquisidores), escrito em 1376 por Nicolau Eymerich e revisado em 1576 por Francisco de la Peña e que se constituiu por séculos no ABC do torturador nas câmaras de suplício da nada Santa Inquisição. Sem o conhecimento teórico dos ensinamentos desses mestres da violência contra o ser humano, a guarnição policial daquela cadeia aparenta ter grande desenvoltura prática quando o assunto é a imposição de tratamento desumano e degradante a detentos indefesos.José Barros da Silva é um jovem de 19 anos. Sua cabeça foi raspada a facão. Seu corpo, queimado com ferro quente. Seu rosto está irreconhecível devido aos hematomas decorrentes das pancadas que levou dentro da delegacia. Seus gritos de horror foram ouvidos, segundo testemunhas, por mais de 45 minutos, mas não foram suficientemente altos para alertar os policiais de plantão, que insistem em não ter notado nada de anormal na carceragem. Em meio à guerra de versões - a polícia diz que se tratou de uma briga entre presos - a família da vítima acusa um investigador pelos maus-tratos, que seria desafeto direto do jovem preso.A prática de tortura - que sempre existiu nas delegacias e presídios - começa a emergir como escândalo. A questão central é saber se o atual governo vai se render ao corporativismo - sempre disposto a por panos quentes diante dessa indignidade - ou terá a necessária coragem para implantar uma ordem que exorcize definitivamente os fantasmas do Santo Ofício, tão presentes sob o manto moderno de distintivos e coletes de instituições nada republicanas.
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