O discurso do empresariado contra a presença do Estado na economia e em defesa da sagrada lei da livre concorrência vira pura retórica ideológica quando se trata de abocanhar, cada qual segundo seu poder de pressão, uma boa fatia da poupança da sociedade, armazenada, aos bilhões, nas poderosas linhas de financiamento à produção, mantidas pelo governo federal. Caso emblemático foi a recente decisão tomada pelo BNDES de transferir à multinacional estadunidense Alcoa, a título de financiamento, R$ 650 milhões, para ajudar na ampliação da planta da Alumar, em São Luís do Maranhão. Lá será processada a bauxita a ser retirada de Juruti, Oeste do Pará, onde a gigante do alumínio implanta um polêmico projeto.
O que justifica a transferência, a juros subsidiados, de mais de meio bilhão de reais para um grupo econômico do porte da Alcoa, quando são tão gritantes e urgentes as demandas por recursos públicos em áreas vitais - saúde e educação, por exemplo - tanto no Pará quanto no Maranhão?
Não faltará quem levante o surrado argumento de que esses grandes projetos são vitais para a geração de emprego na região, além de serem indispensáveis na manutenção dos superávits comerciais do país. Duas falácias, que não se resistem a uma abordagem mais séria.
Comecemos pela geração de empregos. Estudos realizados por Célio Bermann, professor do programa de pós-graduação da USP, comprovam que a mão-de-obra empregada na produção de alumínio é 70 vezes menor do que a gerada pela indústria de alimentos e 40 vezes menor do que a gerada pela indústria têxtil. É por isso que os bilhões de dólares investidos nas minas da Vale e de outras mineradoras são incapazes de alterar, nem mesmo superficialmente, o panorama de miséria social existente no entorno de seus megaprojetos.
Aos que argumentam que o Brasil não sobreviveria sem os saldos da balança comercial, cabe perguntar se é justo o país "queimar" suas reservas estratégicas minerais, exportando-as com baixíssimo valor agregado, enquanto a verdadeira riqueza está sendo gerada e apropriada no exterior, onde, aliás, desde os tempos do Brasil colônia o lucro sempre encontrou seu porto seguro.
Dinheiro público para a Alcoa - ainda mais acusada de crimes ambientais e fundiários - deveria causar indignação. Mal mereceu um pequeno e tímido registro na editoria de negócios dos jornalões do Sul. Aqui, só o silêncio embrutecedor.
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