Os moradores de Ourilândia, Tucumã e São Félix do Xingu não sabiam que literalmente sob seus pés residia uma imensa mina de níquel laterítico, avaliado em bilhões de dólares. Migrantes, seduzidos pelo sonho do Eldorado amazônico, foram deslocados para aquelas terras do sem fim pelos fracassados projetos de colonização do regime militar. Porém, àquela época, estudos geológicos já sinalizam o potencial mineral da região. Segredo guardado a sete chaves em robustos cofres de além mar.
Hoje, o projeto Onça Puma, inicialmente desenvolvido pela canadense Canico Resource, pertence desde 2005 à Vale do Rio Doce. Isso bastou para que os pequenos agricultores passassem a conhecer um determinado método muito característico da 2a maior mineradora do mundo, que não costuma se deter diante de nada para levar adiante seus negócios.
Denúncias da Comissão pastoral da Terra (CPT) revelam que, há pelo menos dois anos, dezenas de pequenos agricultores - muitos deles assentados da Reforma Agrária pelo Incra - foram pressionados a vender o "direito de uso" sobre suas terras, o que seria ilegal. As indenizações, sobre as quais não foram estabelecidos critérios transparentes, são pagas e imediatamente os lotes são incorporados ao patrimônio da Onça Puma, que avança nas obras de construção da planta de mineração, que deverá alcançar, pelo menos, U$ 1 bilhão depois de concluída.
Os impactos socioambientais são evidentes e repetem como tragédia e farsa ao mesmo tempo, o que já ocorreu nas décadas anteriores por todas as regiões onde a Vale ergueu seus enclaves. O pior, diz a CPT, é que levas de camponeses, iludidos com os valores das indenizações, migram para áreas próximas dali, buscando novas áreas de cultivo em terras públicas, inclusive Terras Indígenas, tornando ainda mais dramático o quadro de destruição na vasta região da Terra do Meio, cenário permanente de conflitos sangrentos e de um desenfreado (e pouquíssimo combatido) processo de grilagem e extração ilegal de madeira.
Sob o manto protetor da Vale, o escândalo vem sendo abafado e a mobilização das autoridades é inversamente proporcional à profundidade dos efeitos que a ação da mineradora tem provocado, alguns simplesmente irreversíveis.
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