segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

As (des) razões da Vale e o incompreensível colosso

Da montanha de boatos, que explodiu em um sem números de notas nas mais prestigiadas colunas de opinião da imprensa tão grande quanto subserviente - surge um simples ratinho, fraco, esquálido e que não consegue se sustentar em pé. O que viria como "compensação" da Vale à população paraense tendo em vista o meganegócio que está prestes a fechar com a compra da anglo-suíça Xstrata (pelo menos US$ 90 bi, o que deverá torná-la a maior mineradora do mundo), agora é apresentado como uma possibilidade algo remota e cercada de condicionalidades. E mais: não é um empreendimento direto da Vale, fruto da inversão de uma fração de seus lucros bilionários, mas uma tentativa de "atração" de parceiros do ramo siderúrgico. A tal industria siderúrgica só teria viabilidade, pelas palavras do diretor de assuntos corporativos da Vale, Tito Martins, se antes forem satisfeitas as seguintes pré-condições: a) conclusão das Eclusas de Tucuruí; b) construção do Terminal Off-shore (em águas profundas) do Espadarte, em Curuçá, nordeste paraense, e c) agilização do licenciamento ambiental dos projetos da mineradora. A Vale estabelece condições que demandarão pesados investimentos públicos - só Espadarte, ainda em fase inicial de estudos técnicos, é um projeto para alguns bilhões de reais - como se fosse mera expectadora, sem nenhum compromisso além de cobrar que o Estado - sempre ele - venha pavimentar o caminho para o lucro privado, a ser conseguido de forma quase instantânea, sem riscos e transferindo à sociedade os pesados ônus socioambientais. Tudo somado, o que resta é uma promessa para um futuro incerto. Em menos de uma década, numa previsão otimista, talvez se alcance o cenário desejado pela multinacional. Até lá que o povo do Pará se contente com o mesmo palavrório vazio de sempre. Aliás, não custa lembrar as proféticas palavras do deputado Bernardo Souza Franco, em 1840, acerca do incompreensível colosso representado pela então província do Grão-Pará (que na época correspondia aos atuais Estados do Pará, Amazonas, Amapá e Roraima). Dizia o parlamentar na tribuna da Câmara dos Deputados: "A que deverá o Pará, rico de um futuro imenso, incompreensível colosso, que por si só fará um grande império, o seu atraso atual?". Pergunta solta no ar, atravessando gerações. Que tal retomá-la nos dias cinza de hoje, partindo para o enfrentamento das causas objetivas de nosso atraso ancestral? A incorrigível arrogância da Vale não tem como não ser o primeiro e mais importante alvo dos que não querem que prevaleça a maldição de uma terra riquíssima que abriga em seu seio um povo reduzido à triste condição indigente, eternamente excluído do banquete dos flibusteiros do século XXI.

3 comentários:

Anônimo disse...

Concordo com esta tua leitura caro Aldenor. Mas o que fazer diante deste gigante e da mediocridade da imprensa e subserviência dos políticos?

Cláudio

Anônimo disse...

A vale e seu vale de lagrimas e sombras...

Alan Lemos disse...

Nós temos é que tomar posse das instalações da VALE no Pará e criar uma empresa para possuí-la: uma empresa 50% estaudal e 50% federal.

Para a VALE, paguemos a aquisição em parcelas de 10~20 anos, com um juros razoável.

Aí sim teremos recursos para construir uma Suíça social em nosso estado.


O incrível foi que o deputado proferiu essas palavras muito antes até mesmo da Belle Époque, e são palavras cabíveis até hoje.

A.L.