As idas e vindas da provável (mas ainda insegura) nomeação do engenheiro José Antônio Muniz Lopes para a presidência da Eletronorte, sob as bênçãos de seu eterno padrinho José Sarney, evoca imagens de quase 20 anos e dá a dimensão do quanto a Amazônia vive enredada num labirinto que parece não ter fim. Altamira, finais de fevereiro de 1989. Mais de 3000 participantes - entre os quais 650 indígenas - lotam o plenário do histórico I Encontro dos ovos Indígenas do Xingu. Sob os holofotes da mídia nacional e internacional, a índia Tuíra, da nação Kaiapó, aproxima o facão da face do então diretor da Eletronorte (mais tarde, sob FHC, ele seria presidente da estatal). A foto desse desencontro correu o mundo e ilustrou a vitória de índios e ambientalistas. Naquele momento foi derrotado o plano de construção das usinas hidrelétricas na volta grande do Xingu, o projeto Kararaô, hoje lipoaspirado sob o novo nome de Belo Monte.
A roda do mundo girou e, duas décadas depois, estão mais vivos do que nunca o mesmo José Muniz - representando os mesmíssimos interesses das empreiteiras de sempre - e a disposição governamental de transpor todos os obstáculos para construir grandes barragens na Amazônia, fonte de energia boa e barata para a indústria eletrointensiva (afinal, a Alcoa e a Vale não têm tempo e dinheiro a perder).
A novidade, talvez, seja outra. Depois de anos de marasmo, ressurge com força uma articulação dos povos indígenas em aliança com os movimentos sociais da região. Prometem repetir - simbolicamente, é claro - o gesto corajoso da guerreira Tuíra e colocar o governo e os barrageiros contra a parede novamente. Será em maio, na mesma Altamira. Palavras de ordem e cânticos de guerra em defesa da sobrevivência da floresta e de seus filhos.
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