As cenas de guerra urbana ocorridas ontem (19) em Tailândia, a 240 quilômetros de Belém, repetem um roteiro sempre utilizado pelos que vivem da depredação permanente da floresta. Diante de uma ação mais dura da fiscalização governamental, os proprietários da serrarias ilegais arregimentam, com enorme facilidade, centenas de seus empregados para que promovam o máximo de tumulto. Servem de bucha de canhão, arriscando a própria vida e dos servidores públicos encarregados de fazer cumprir a lei.
Enquanto o fogo arde nas ruas, os mandantes permanecem abrigados em segurança, ditando ordens de ataque. Protegidos das balas de borracha e do spray de pimenta, podem pensar nos próximos passos para seus lucrativos negócios sejam retomados tão logo as "forças de ocupação" sejam retiradas da cidade.
Tailândia não é por acaso o sexto município mais violento do país. Anos de inércia e cumplicidade do Estado com quadrilhas especializadas em devastação ambiental estão na raiz dos atuais conflitos. Controlam, assim, praticamente todos os espaços de representação pública, possuindo musculatura financeira e política para suportar um cerco muito mais longo que uma simples operação prevista para durar apenas algumas poucas semanas.
Há poucos dias uma promotora de Justiça precisou se afastar de Tailândia sob ameaça de morte. A jovem integrante do Ministério Público julgou que os negócios nebulosos do atual prefeito, Paulo Jasper (PSDB), conhecido por Macarrão, um notório gangster, precisavam ser investigados. O terror parece ter imposto suas regras.
Apesar de todos os riscos que a operação Guardiões da Amazônia está enfrentando, a ação do poder público deve ser ampliada, com reforço das equipes federais e estaduais envolvidas, e mantida por prazo indeterminado. Qualquer recuo, mesmo que momentâneo, representará uma concessão injustificável às máfias que se apoderaram da região. A hora efetivamente é de agir. Com serenidade - utilizando-se dos recursos de inteligência e investigação policial - mas também sem permitir que o banditismo vença mais uma vez.
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quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008
Bucha de canhão
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2 comentários:
ak diz:
Aldenor Jr.: não o conheço pessoalmente.
Tem muita gente que conheço e gosto, que lhe conhece e gosta de você porque acha que você é uma pessoa séria.
Também sempre achei, e acho, mesmo discordando de quase tudo que você pensa.
Sou leitor do seu blog, desde o início e vou continuar sendo.
Mas, me diga : o PT do seu tempo nunca usou desse tipo de estratégia que está sendo usada em Tailândia, pra fragilizar o governo do Estado "sem controle" ?
Afonso Klautau
Caro Afonso Klautau,
Apesar das distâncias - políticas, ideológicas, quem sabe - tenho também como regra o respeito às opiniões divergentes. Por isso, seja sempre bem-vindo ao Página. Este espaço nasceu para fomentar o debate, entre diferentes, sobretudo.
Não acho que a situação de Tailândia - dominanda pelo crime - tenha relação com os movimentos sociais - mesmo radicalizados - que possam ter causado problemas para os governos tucanos. Trata-se de ações significativamente distintas e até antagônicas em termos de objetivos.
Bloquear um rua ou um estrada para forçar o atendimento de uma pauta sindical ou social, realizar uma greve de fome como gesto extremo em meio a um conflito com o Estado, enfim, muitos outros gestos de desobediência civil, não podem ser nivelados à manipulação descarada da parte mais frágil da população, que se vê refém de atividades ilegais e, mais que isso, criminosas.
Quem conhece um pouco que seja a situação de Tailândia não gasta mais que cinco segundos para identificar os mandantes da ciranda de crimes que controla o município. Todo mundo sabe - muitas autoridades inclusive - que os sem-tora e os madeireiros ilegais, além dos ladrões de carga e os organizadores de grupos de extermínio, estão todos vinculados e abrigados sob a proteção de grupos bem visíveis, detentores de poder e de dinheiro, tudo somado.
É preciso que o Estado não se acovarde, não se apequene diante da máfia. Caso contrário, será a vitória da barbárie.
Um abraço e volte sempre.
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