Como o mágico que tira o coelho da cartola e provoca assombro na platéia, o discurso do presidente Lula exultando a passagem do Brasil de devedor a credor internacional está mais para truque barato do que para um discurso de estadista. O brilho do falso brilhante pode até encantar os mais propensos a acreditar em qualquer coisa desde que a favor do governo, mas não resiste à mínima análise isenta.
Vejamos os números coletados pelo economista Rodrigo Ávila, da Campanha Auditoria Cidadã da Dívida, para desmontar a farsa: tudo não passaria de uma deslavada manipulação estatística, iniciada no governo FHC e perpetuada pela dupla Lula-Henrique Meireles, já que o cálculo apresentado exclui as dívidas das filiais de multinacionais no Brasil com suas matrizes no exterior. Só em 2007, esse débito pulou de US$ 20 para US$ 42 bilhões, valor suficiente para transformar o país novamente em devedor, pondo areia na comemoração oficial.
Mas á manipulação vai mais além. O que justifica o recorde histórico em reservas cambiais? Simples. Enquanto diminui a dívida externa - influenciada inclusive pela forte valorização do real frente ao dólar - cresce exponencialmente o endividamento interno, que no final do ano passado ultrapassou a barreira dos R$ 1,4 trilhão, um crescimento de mais de 40% em dois anos. Para fechar a equação é necessário saber que são os grandes especuladores internacionais que reforçam nossas reservas, trazendo dólares para o país, mas não para investimentos produtivos. Preferem o lucro fácil, rápido e sem riscos da compra de papéis do governo, o que alimenta a ciranda do endividamento.
Como afirmar então que superamos o problema da dívida, como fez Lula em discurso pirotécnico no parlamento argentino na última quinta-feira, 21, se a drenagem de recursos públicos no ano passado para os felizes detentores da riqueza financeira resultou numa conta de R$ 237 bi de juros das dívidas interna e externa, sem levar em consideração a parte que foi simplesmente "rolada", gerando mais endividamento?
Não se deve esquecer que é esse mesmo governo que chora lágrimas de sangue ao alegar a "perda" dos R$ 40 bilhões com o fim da CPMF, mas engole com satisfação perdas nas transações cambiais do Banco Central que em 2007 chegaram a R$ 60 bi.
Os olhares embevecidos da platéia não durarão para sempre. E a descoberta do embuste não estará isenta de dolorosos traumas.
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