João Lyra é um homem muito rico. Um plutocrata, que declarou patrimônio equivalente a R$ 236 milhões nas eleições passadas, quando tentou, sem sucesso, abocanhar o governo do sofrido Estado de Alagoas.
João Lyra é um homem ambicioso. Construiu sua fortuna, alavancada a partir do que lhe foi transmitido por herança, sempre utilizando a mão de ferro da intolerância. Senhor feudal, dono de gados e de gentes, nunca admitiu ser questionado em seus domínios.
Pisou firme nos aparentemente limpos carpetes da Câmara e do Senado, defendendo com ardor as teses da livre iniciativa e do progresso econômico (para ele e para uns poucos, claro). Exerceu seus mandatos como pessoa ilibada, ilustre representante da classe dos "produtores nacionais". Um grande usineiro, detentor de muitos empréstimos em bancos oficiais (quase nunca quitados, mas isso já é outra história).
João Lyra se envolveu no escândalo Renan Calheiros, seu ex-aliado na cruenta política alagoana. Uma sociedade secreta entre eles foi objeto de um arremedo de investigação no Conselho de Ética do Senado, malogrado porque ele próprio se negou a apresentar as provas cabais da negociata. Auto-incriminação não faz parte de sua longa biografia.
De repente, desembarca nas terras alagoanas, pela primeira vez desde 1995, ano em que foi criado, o temido Grupo Móvel do Ministério do Trabalho, aquele que se especializou a caçar escravocratas modernos pelo Brasil afora. Os auditores foram meter o bedelho numa das muitas usinas de João Lyra. Encravada no município de União dos Palmares, homenagem ao quilombo que infernizou a vida dos portugueses durante mais de um século, lá encontraram a Usina de Cana Laginha e dentro dela, em condições absolutamente degradantes, 61 trabalhadores reduzidos à condição semelhante à de escravos. Jornadas de trabalho extenuantes, não-pagamento de horas extras, alojamentos sem higiene e até água potável não existia. Os quartos em que os cortadores eram obrigados a ficar não tinham portas ou janelas e a temperatura ambiente alcançava 40C. Qual a diferença com as senzalas do século XVII?
Uma exceção no moderno e reluzente setor produtor de açúcar e álcool? Infelizmente, não. No ano passado, mais da metade das libertações de trabalhadores em condições degradantes ocorreu em usinas de açúcar. Foram 3.117 pessoas resgatadas neste segmento, um dos mais festejados vetores de expansão do agronegócio voltado para a exportação.
João Lyra, com sua coleção de empresas e seus muitos milhões que florescem sem cessar, não tem mais como esconder sua verdadeira face. É um criminoso e como tal merece ser tratado.
Política. Cultura. Comportamento. Território destinado ao debate livre. Entre e participe, sem pedir licença.
quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008
Palmares revisitado
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Um comentário:
Aldenor, União dos Palmares, é uma cidade linda, de um povo orgulhoso de sua história, a história de Zumbi dos Palmares, que se refugiou dos seus algozes na Serra da Barrica e se tornou símbolo da resistência à escravidão imposta pelos colonizadores. O local se tornou ponto de visitação no município, mas infelizmente os cidadão de Palmares sobrevivem sob muita miserária, com muito pouca oferta de trabalho, uma delas é a usina da família Lyra, que ainda não perceberam que já entramos no século XXI e permanecem com a cabeça no século XVII. Os usineiros de Alagoas são os maiores responsáveis pela devastação quase total da mata atlântica e se consolidaram como os maiores concentradores de riqueza deste País, explorando o meio ambiente descontroladamente e a miséria do aguerrido povo de União e de Alagoas e Estados canavieiros do nordeste.
Vamos ver o que vai acontecer com este flagrante do Grupo Móvel. Sinceramente, pelo histórico desta família e deste País, não tenho muitas esperanças de mudanças a curto prazo.
Um abraço pra você
Aline Brelaz
Postar um comentário