terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Quem tem medo do Araguaia?

A Guerrilha do Araguaia, mais de 30 anos depois de aniquilada por tropas do Exército brasileiro, permanece como uma ferida aberta. A história oficial não dá conta nem de uma pequena fração do que realmente aconteceu naquela guerra suja, permanecendo como um segredo de Estado que encobre os crimes praticados pelos militares encarregados de por fim ao movimento deflagrado pelo Partido Comunista do Brasil (PCdoB) no Pará. Não é por outro motivo que uma parte razoável dos desaparecidos políticos do período da ditadura militar tenham vinculação direta a este episódio sangrento.
Em mais um capítulo da luta por desenterrar a memória da repressão militar, o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) anuncia que ingressará, no Supremo Tribunal Federal (STF), com uma notícia-crime para apurar quem foi o responsável pela suposta destruição dos documentos referentes à Guerrilha do Araguaia, fato alegado pelas Forças Armadas para continuar omitindo dados sobre a localização de mortos e desaparecidos.
Recentemente o governo federal, através da Secretaria Nacional de Direitos Humanos, lançou um livro “Direito à memória e à Verdade – Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos”. Edição primorosa, conteúdo histórico rigoroso e bela apresentação gráfica, transformam esta publicação em fonte indispensável para quem se dispuser a levantar os véus do silêncio e da impunidade que ainda cobrem a história das últimas quatro décadas no Brasil. Mas ainda é pouco. De um governo que se elegeu, em 2002, despertando tantas expectativas de mudanças, o saldo do governo Lula neste aspecto é claramente negativo. Quem sabe que a iniciativa corajosa da OAB recoloque o tema da impunidade dos crimes da ditadura na pauta dos debates do país.

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