O povo Guarani-Kayowá está sob cerco de morte. Há muito tempo e às vistas de todos. A tragédia segue impune, com milhares de indígenas confinados em minúsculas áreas de terra, fração residual do enorme território que foi apropriado pela soja e agropecuária no Mato Grosso do Sul.
Os vínculos espirituais - relativos à sua cultura milenar - vão sendo desconstruídos inapelavelmente. Sem referências, os índios tornam-se presa fácil do alcoolismo, da fome endêmica e da violência doméstica. No meio do caos, proliferam seitas evangélicas - a intolerante Deus é Amor é de todas a mais presente e de longe a mais agressiva contra os costumes indígenas ancestrais. Tudo somado resta um quadro crônico de falta de perspectiva e desespero.
Para muitos o caminho é buscar a saída através da queda livre no poço escuro do suicídio. Nesta semana, segundo noticiou o Estadão, um jovem índio de 16 anos foi ao encontro da morte com a rama do próprio pai. Diante do corpo do filho, o pai também cometeu suicídio. É o nono caso somente neste ano.
A polícia avisa que instaurou competente inquérito. Deve percorrer as infectas vielas da Terra Indígena Potrero Guaçu, no extremo sul do Estado, procurando identificar as causas da tragédia. Trabalho inútil: nesta como em todos os outros muitos casos de suicídio registrados ano a ano é na falta de terra - condição básica para a sobrevivência de qualquer povo - que se encontrará a causa fundamental deste interminável etnocídio, que tem como palco um dos baluartes da agricultura dita moderna e de seu reluzente agronegócio tipo exportação.
Política. Cultura. Comportamento. Território destinado ao debate livre. Entre e participe, sem pedir licença.
sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008
Mergulho no desespero
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Um comentário:
infelizmente uma considerável fração da elite brasileira baseia-se nesse empreendimento. Não somente por toda a violência e estrago (social e ambiental) causados, mas também por ser uma produtividade de baixo valor agregado.
Postar um comentário