quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

O homem que calculava

Toda vez que os bancos divulgam seus extraordinários lucros – recordes a cada ano – uma sirene de alarme deveria disparar. Por trás dos bilhões apropriados pela oligarquia financeira há uma selvagem estrutura de concentração de renda e riqueza, cujos motores propulsores se mantêm em plena atividade impulsionados pela política econômica do governo Lula.
Quem desvenda o mistério é um cientista que sempre foi conseqüente no uso de todas as armas contra a exploração. Da juventude vinculada às organizações da luta armada à cátedra de professor titular da PUC-SP, Ladilau Dowbor, este intelectual engajado, jamais abriu mão da capacidade de criticar as engrenagens perversas do capitalismo contemporâneo.
É dele o estudo publicado na última edição do Le Monde Diplomatique-Brasil, já nas bancas, demonstrando de forma irrefutável que o mercado financeiro no Brasil pratica taxas de juros para lá de extorsivas e isso é o que explica os números fantásticos que ilustram os balanços dos gigantes como Bradesco, e Itaú, para ficar somente nos líderes da ciranda financeira nacional.
Vejamos: as taxas de juros anuais praticadas nos demais países do mundo não costumam ultrapassar a faixa de 5% para o mercado imobiliário e de até 8% para os bens de consumo. Atenção: ao ano e não ao mês, como acontece no Brasil. Aqui, segundo dados da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), a taxa média de juros do mês de novembro de 2007 foi de 4,10% ao mês para pessoa jurídica, totalizando 61,96% ao ano. Já as pessoas físicas são escorchadas por taxas médias de 7,23% ao mês, o que conduz a uma indecente taxa anual de 131,10%. Está aí a chave para explicar a euforia dos endinheirados executivos da Avenida Paulista.
Imaginem um consumidor japonês, acostumado a taxas anuais de 2%, diante destes números que revelam uma usura escandalosa. Deve ter calafrios.
A conclusão do professor Dowbor vale como um grito de alerta: “Intermediários financeiros cumprem a função de facilitar o acesso ao dinheiro dos outros. Mas, quando viram atravessadores, se tornam um desastre. Já é hora de por um pouco de ordem na selva que virou a intermediação financeira no Brasil”.


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