Durante décadas - talvez séculos - as fronteiras brasileiras no extremo sul do país foram palco de convulsões sangrentas e ferrenhas disputas com nossos vizinhos castelhanos. Criou-se o mito que se um dia voltássemos a guerrear no continente essa contenda encontraria as forças militares argentinas na barricada oposta. Esse temor militarista foi fundamental para manter até hoje as faixas de fronteira em 150 quilômetros, criando um anteparo destinado, supostamente, a conter infiltrações e ameaças à soberania verde e amarela.
Pois bem. Tudo isso parece que está mudando e as razões das transformações conceituais estão a léguas de distância dos nobres interesses nacionais. Nesta semana, a Comissão de Constituição e Justiça do Senado aprovou proposta de emenda constitucional do senador gaúcho Sérgio Zambiasi (PTB), reduzindo a faixa de fronteira para apenas 50 quilômetros do Rio Grande do Sul até o Mato Grosso do Sul. Note-se que sua intenção era alterar a faixa em todo o país, mas a Amazônia foi excluída, evitando que os impactos negativos da medida fossem ainda maiores.Os argumentos são os de sempre: a faixa de 150 quilômetros seria um inibidor dos "investimentos" e dificultaria nossa "integração com os parceiros do Mercosul". Pura balela. A mão invisível por trás a proposta não tem nada a ver com a América do Sul e nem espanhol fala. Trata-se da gigante da indústria mundial do papel e celulose, a Stora Enso, atuando em mais de 40 países e considerada a maior fabricante de polpa e papel do mundo.
A empresa de capital sueco-filandês possui enormes plantações de eucalipto próximo à zona de fronteira no Rio Grande do Sul e já atua dentro da faixa através de proprietários "laranjas". Com a mudança, cai a restrição para que possa assumir diretamente as suas amplas propriedades e inclusive ampliá-las, provocando, segundo os ambientalistas, enormes impactos ambientais ao debilitado bioma Pampa, cada dia mais ameaçado pelo avanço do deserto verde.
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