terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Espelho partido

Toda vez que algum defensor da divisão territorial do Pará, com a criação do Estado de Carajás, por exemplo, quer impressionar a platéia, tira do colete o suposto êxito dos Estados criados com a repartição de Goiás e Mato Grosso. E Mato Grosso do Sul é, invariavelmente, apresentado como símbolo do progresso e da riqueza a partir do desmembramento. Nada mais longe da realidade.
Vamos nos deter em apenas um aspecto da trágica situação social desse que é o paraíso dos sojeiros e vitrine do agronegócio nacional: é lá, naquelas terras cercadas por enormes latifúndios, que ocorre o genocídio da população indígena, principalmente do povo Guarani Kaiowá, num escândalo de repercussão mundial.
O Conselho Indigenista Missionário (Cimi) acaba de divulgar dados parciais referentes à violência contra a população indígena do país, dando conta de um crescimento na ordem de 63% no número de assassinatos entre 2006 (48) e 2007 (76). O dado impressionante é que deste total de mortos, nada menos do que 48 ocorreram no Mato Grosso do Sul, representando um crescimento de 150% em relação ao ano anterior.
As causas mais profundas dessa tragédia, que ameaça a sobrevivência de mais de 25 mil indígenas, estão fincadas no indecoroso confinamento a que estão submetidos, destribalizados, sem território reconhecido e abandonados à fome e a desesperança nas miseráveis periferias das cidades, como Dourados, onde ocorreram, não por acaso, 14 assassinatos no ano passado.
Será esse o futuro que nos aguarda em um novo Estado que já nasceria sob controle das oligarquias que veneram, como deuses intocáveis, a pata do boi, a monocultura da soja e dos agrocombustíveis, além dos sacrossantos lucros dos monopólios mínero-exportadores?
Tudo somado, temos um espelho partido, péssimo exemplo de aplicação fundamentalista de um modelo excludente e devastador. Foi assim que se criou não um Estado, mas um protetorado sob o férreo controle de grandes grupos econômicos (à semelhança das empresas de Blairo Maggi - o maior destruidor da floresta Amazônica, segundo o Greenpeace, e que controla o Mato Grosso, Estado remanescente). Motivos não faltam para uma boa reflexão.Tão decisiva quanto urgente, antes que o caminho da destruição esteja irremediavelmente traçado.

3 comentários:

Anônimo disse...

que é isso aldenor, como bom democrata que és, embora tenha idos para esse tal de PSOL, deixa o povo escolher - ou será que achas que o povo brasileiro não sabe escolher, e o poder deve ser dos "filosófos"?
como dizia Genoino uma coisa é uma coisa (mato grosso) e outra coisa é outra coisa (tapajós e carajás)
reparastes que é só nome bom de briga, de indíos bravios...
dês os nomes dos oligarcas meu amigo...
jc

Aldenor Jr disse...

JC,

Não nego a legitimidade da demanda separatista das populações do Tapajós e do Sul do Pará, vitaminada pela quase total ausência do Poder Público naquelas plagas.
O que questiono é o modelo de desenvolvimento - que privilegia tão poucos em detrimento da maioria - e que sairá ainda mais fortalecido com a divisão. Exemplos não faltam. Basta ver a situação social do Tocantins e do Mato Grosso do Sul, e seus níveis africanos (ou brasileiros, mesmo) de concentração de renda, riqueza e poder.
Que se instale um bom debate sobre a divisão territorial, com o salutar embate de argumentos.

Anônimo disse...

mas se se falar de IDHs o daqui de N. Déli, como diz juvêncio, é um dos piores do país, em 12 anos de tucanato, assim sendo, o argumento de desenvolvimento e seu modelo abarcar também o estado do pará todo e quiçá o brsil não achas?
mas gostei da legitimidade da luta separatista, isto indica que és a favor, no fundo do fundão
ainda pensas - ou sonhas - em mudar o mundo, como na época da UFPA? Então explica porque o 'dimilson não quer vir atacar o dudu?
obrigado pela atenção
jc