Virou costume o empresariado - de todos os quilates - não economizar mesuras diante dos governantes de plantão. Um jantar, de caráter privado, com o mais alto mandatário do país, era (ou é ainda) apresentado como um troféu indicador de inegável prestígio que só muito poucos podem ostentar.
Pois bem. Que tal a notícia, furado pela Globo desta semana, dando conta da ida do presidente Lula (acompanhado do governador do Rio, Sérgio Cabral) ao apartamento do chairman da Vale, Roger Agnelli, no elegante bairro de Ipanema, para participar de um jantar de "cortesia". Diante de olhares assustados com o ineditismo da cena, Lula se apressou em esclarecer que "não trataria" da rumorosa (e polêmica) aquisição pela Vale, por um valor que pode chegar a U$ 100 bilhões, da gigante anglo-suíça Xstrata. Com a pretendida aquisição, cujas negociações seguem a todo vapor, a Vale poderá se tornar na maior mineradora do mundo.
O que causa estranheza, pelo menos para os que desconhecem que a Vale, há muito, se transformou no "Estado dentro do Estado", é que o governo não tem feito segredo de sua contrariedade diante da megaaquisição. Segundo fontes credenciadas, o Palácio do Planalto tem que tenhamos a repetição do "efeito Ambev", ou seja, a transferência do "poder decisório" para fora do país. Ingenuidade ou má-fé?
Desde a privatização (privataria, esse neologismo horrendo que o reinado tucano nos legou), o "poder decisório" da Vale já está fora de nossas fronteiras. Anotem aí: os investidores estrangeiros controlam 42,48% do capital votante (antes de 1997, detinham apenas 11%). Tudo isso torna mais ridícula (ou eloquentemente emblemática) a troca de gentilezas entre quem se supunha ser a maior autoridade do país e o executivo de uma multinacional (cada vez menos verde e amarela).
Um comentário:
Ah, ah, ah. Não pode jantar com o Aguinelli é? Conta outra. Olha a coerência...
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