O fazendeiro Gilberto Andrade, deve se definir como um típico representante das tais “classes produtoras do campo”, mas se pudesse, faria o tempo girar para trás, lá pelos idos do século XVII, onde a escravidão de índios e negros era não só normal como indicava o nível de prestígio da aristocracia da época. Quantos mais escravos a seu serviço, maiores os cabedais e as honrarias que fidalgo poderia ostentar. Quanto mais violento no trato com sua escravaria, mais temido e respeitado.
Reincidente no crime de reduzir trabalhadores à condição análoga à escravidão, este legítimo eleitor da operosa bancada ruralista, foi flagrado ontem (13) por uma equipe do Grupo Móvel do Ministério do Trabalho mantendo 35 trabalhadores escravizados em uma de suas fazendas, em Paragominas, sudeste paraense.
Após os procedimentos de praxe, as vítimas foram conduzidas até a cidade, onde estão recebendo assistência e proteção das autoridades federais.
Segundo a lista suja de empregadores, disponibilizada para consulta no site do Ministério do Trabalho e Emprego (www.mte.gov.br), Gilberto Andrade já foi autuado em novembro de 2005, em sua fazenda Boa Fé, no município maranhense de Centro Novo, da qual foram libertados na ocasião 18 trabalhadores. Protegido pela impunidade, ele não teve dúvida em voltar a delinqüir, agora do lado paraense de suas vastíssimas propriedades.
Um detalhe mórbido despertou a indignação da equipe de fiscais: um dos trabalhadores libertados exibiu uma marca nas costas, gravada a ferro quente, como punição à sua tentativa de empreender fuga da fazenda. Por mais inacreditável que pareça, a tortura já foi confirmada pelas autoridades policiais.
Espera-se agora que a mão pesada da lei, muitas vezes célere e vigorosa quando se trata de encarcerar pobres envolvidos em pequenos delitos, aja com rapidez e determinação para por atrás das grades os responsáveis por esses crimes contra a dignidade humana. Caso contrário, será dado um poderoso atestado de cumplicidade e de fraqueza diante de modernos capitães do mato.
2 comentários:
Será que Bordalo e Flexa vão defendê-lo, Aldenor Jr.?
O modesto furo do Página, publicado ontem à noite, está estampado na edição de hoje de O Liberal, no sanguinolento caderno de Polícia.Tortura e trabalho escravo, tudo a ver.
Agora só resta esperar mesmo a reação, indignada, dos parlamentares da bancada do chicote.
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