O Bird (Banco Mundial) tem uma legião de consultores espalhados por todos os continentes. Escolhidos a dedo, costumam ser muito bem remunerados para que suas conclusões sempre coincidam com os interesses dos governos que controlam a instituição. São apóstolos do chamado Consenso de Washington e defendem com ardor as receitas econômicas que deixam os banqueiros e rentistas internacionais com o rosto dormente de tanto sorrir.
Não é de se estranhar que técnicos do Bird, contratados pelo governo brasileiro para lançar um "olhar independente" sobre os impasses no licenciamento ambiental de obras na área energética, tenham chegado a diagnósticos tão semelhantes àqueles que freqüentam o discurso de onze de cada dez defensores do atual modelo de desenvolvimento a qualquer custo.
Para o estudo do Banco Mundial, divulgado na semana passada, o Brasil precisa explorar ainda mais seu potencial de hidrelétrico, inclusive na Amazônia, destravando os três principais nós que emperram o setor: a demora na concessão da licença ambiental, que pode provocar anos de atraso nas obras; o precário planejamento estatal neste segmento que exige decisões de longa duração; e a forte interferência do Ministério Público no setor elétrico, fruto, segundo os técnicos, de uma "independência ilimitada" supostamente conferida aos membros do Ministério Público.
Por trás de linguajar que simula neutralidade, o estudo dá a senha para o avanço de uma nova onda conservadora, com forte presença no Congresso e no Planalto, que pretende investir contra as prerrogativas que o Ministério Público adquiriu desde a Constituição de 1988.
Numa palavra, o sonho dourado de todo dono de empreiteira, concessionária de energia ou simples porta-voz político desses interesses: calar o MP e mandar para bem longe os movimentos sociais - com destaque para índios, quilombolas e comunidades extrativistas -, deixando o campo livre para que as grandes obras - e suas gordas propinas - possam fluir livremente.
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