segunda-feira, 31 de março de 2008

Upatakon. A batalha final?

Upatakon, na língua Macuxi, significa "nossa terra". Pela terceira vez consecutiva denomina a mobilização de 500 policiais federais que, nos próximos dias, tentará retirar os não-índios da Terra Indígena Raposa-Serra do Sol, de 1,7 milhão de hectares em áreas contínuas em Roraima. Esta operação é ansiosamente esperada pelos quase 15 mil indígenas das etnias Macuxi, Tauarepang, Patamona, Ingarikó e Wapixana, que ocupam 152 aldeias, em permanente confronto com invasores, em especial com grandes produtores de arroz que há alguns poucos anos chegaram à região, como sempre, contando com apoio político e fartos recursos públicos.
Se a desintrusão da Raposa-Serra do Sol for realmente efetivada, será desenlace de uma disputa que se arrasta desde 1917, quando as primeiras terras foram reconhecidas para os índios Macuxi e Jaricuna, entre os rios Surumu e Cotingo.
Homologada pelo presidente Lula desde 15 de abril de 2005, a reserva enfrenta fortíssima resistência e foi obstruída por seguidos recursos judiciais. Em decisão unânime, de 4 de junho do ano passado, o Supremo Tribunal Federal (STF), colocou um ponto final na controvérsia. A Terra Indígena será instituída em áreas contínuas, o que implica na retirada de todos os não-índios. Apesar de tudo, pressões políticas e indecisão do governo federal em fazer cumprir a lei têm retardado, ao longo desse período, a completa liberação do território, fazendo com que a tensão e a possibilidade de conflitos sangrentos aumentem ainda mais.
Os povos indígenas que habitam a região há pelo menos quatro séculos - ocupação comprovada segundo os estudos arqueológicos, mas que pode ser muito mais antiga, remontando à migração de tribos caribenhas para o Continente ocorrida há quatro mil anos - esgotaram seu estoque de paciência e ameaçam fazer guerra contra os invasores. Espera-se que o governo Lula, tão suscetível aos argumentos do agronegócio, faça desta vez valer os direitos constitucionais dos nossos povos originários, parcela mais fragilizada da sociedade brasileira, evitando um verdadeiro banho de sangue.

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