O cenário foi especialmente montado para a ocasião. Câmeras, luzes, microfones, tudo a serviço da transformação do factóide em notícia. E, se Deus mandar bom tempo, dentro de alguns anos, a notícia talvez vire fato. Assim foi o "anúncio" da construção de uma siderúrgica da Vale (?) no Pará, comunicada, em pleno Palácio do Planalto, pela governadora Ana Julia (PT), requentando o que há semanas vinha sendo vazado através da imprensa.
O investimento, que poderá ser da Vale ou de um de seus "parceiros", seria de R$ 5 bilhões, mais R$ 1,5 bi do próprio governo federal em infra-estrutura. Pintou-se a redenção das mazelas do povo do Pará, salvo na hora do gongo pelas mãos piedosas da grande-irmã, que finalmente estaria sinalizando a era da "verticalização" das riquezas minerais do Estado.
Alguns detalhes chamaram a atenção. Nenhum executivo da Vale participou do "comunicado", e Roger Agnelli, o chairman da empresa, estava na audiência. Nenhum ministro também se dignou a corroborar a versão que a governadora estava apresentando. Tudo ficou assim mesmo, vazio, desprovido de detalhes, sem prazos, sem procedimentos operacionais definidos, enfim. Jogada de marketing marcado pelo improviso.
Nem as "pré-condições" expostas na semana anterior pelo executivo da Vale, Tito Martins, vieram à tona. Ele havia condicionado o empreendimento - "a ser captado pela Vale entre um de seus parceiros" - a existência de "infra-estrutura (eclusas, energia)", escoamento através do futuro porto de Espadarte e "agilização das licenças ambientais", uma forma educada de exigir que o Brasil desmoralize de vez sua legislação ambiental, permitindo indústrias sujas e transferindo o passivo socioambiental à sociedade.
Houve evolução no quadro, com a retirada das condicionantes, ou apenas não se quis azedar a festa preparada para o anúncio "político" da governadora?
De tudo, uma certeza. Está se projetando apenas a repetição do mesmo modelo, edulcorado aqui e ali, com mais promessas. A Vale não se vê pressionada a fazer nenhuma concessão digna de nota. Continua senhora absoluta do destino de sua maior província mineral. Província como nos tempos romanos com seus cônsules dóceis aos desígnios do império.
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