quinta-feira, 20 de março de 2008

Rios de sangue na Babilônia

Tão certo como o sol que banhou hoje as margens do rio Tigre, onde se ergue a outrora imponente Bagdá, muitas famílias chorarão seus mortos, vítimas de uma violenta guerra de agressão que completa cinco anos, sem qualquer perspectiva de que vá ser solucionada a curto prazo. Nem a estabilização do país, embora tenha ocorrido uma relativa diminuição dos atentados e chacinas inter-religiosas nos últimos meses, aparece no horizonte imediato das forças de ocupação lideradas pelas tropas dos Estados Unidos. O Iraque segue imerso num atoleiro de sangue e destruição, e só os fundamentalistas da administração Bush é que são capazes de abrir um sorriso em comemoração aos supostos feitos de sua empreitada belicista.
Fontes independentes tentam contabilizar os mortos da guerra. Os números, porém, são contraditórios. E talvez jamais se saiba o custo real que iraquianos e norte-americanos estão pagando diariamente. Para a Opinion Research Business (ORB), empresa britânica, após entrevistar 2414 adultos iraquianos, concluiu que 20% deles perderam pelo menos uma pessoa de suas famílias nestes anos de ocupação estrangeira, o que leva a uma estimativa de 1 milhão mortes em decorrência direta ou indireta da guerra, desde aquele amanhecer de 20 de março de 2003, quando os primeiros mísseis de cruzeiro atingiram o complexo de palácios de Saddam Hussein, no coração de Bagdá.
Já um estudo da universidade Johns Hopkins divulgado em outubro de 2007 dá conta da morte de 650 mil pessoas no conflito. Para a Organização Mundial de Saúde (OMS), até janeiro deste ano, 150 mil iraquianos teriam tido suas vidas ceifadas em decorrência da guerra. Por trás dessas contraditórias cifras emerge um país destruído, fraturado e reduzido a simples protetorado dos Estados Unidos. O Iraque e sua milenar tradição civilizatória estão reduzidos a um monte de escombros. Dois de cada três iraquianos não têm acesso à água potável, apesar dos muitos bilhões de dólares gastos nas ações de guerra e da questionável estabilização do país.
Do lado norte-americano já são quase quatro mil soldados mortos. Mais precisamente 3.992 até ontem (19), contabilizados pelo site independente
www.icasualties.org, que a todo instante atualiza este placar macabro.
O emblema maior do atoleiro dos Estados Unidos no Iraque é o fato de que Bush, mesmo sendo um poderoso senhor guerra e líder da macrocéfala e única superpotência mundial, não pode anunciar com antecedência suas visitas ao território conquistado. Faz apenas e muito raramente visitas-surpresa, de poucas horas, mais voltadas para a produção de fotos e vídeos para o consumo da mídia subserviente do que algo que possa se aproximar mesmo que lateralmente de uma diplomacia de Estado. Sinal dos tempos de um século iniciado sob o signo de imoral banho de sangue.

Um comentário:

Anônimo disse...

prezado Jr, li agora pouco no LB, pois espero a edição on line sair, que os militares do TJ não serão devolvidos ao governo pois uma liminar os mantinha no tribunal. O que é isso, justiça em causa própria, quem será que ajuizou a liminar, o soldado, o capitão ou o major?
jc