É de Isaac Deutscher, socialista revolucionário e judeu a sua própria maneira, a metáfora que durante décadas tentou explicar a guerra sem-fim entre israelenses e palestinos pelo controle e soberania sobre as mesmas terras milenares. Dizia ele que aquele drama sangrento era como aquele cidadão que para fugir de um prédio em chamas salta e cai sobre outra pessoa que não tinha qualquer culpa ou participação no sinistro. É claro, o prédio em chamas alude à Europa destroçada pelo nazismo e o transeunte atingido representaria alegoricamente o povo palestino, que vê frustrada seu legítimo anseio de lebertação nacional pela ação da potência imperial britânica, mandatária da Palestina desde o fim do domínio Otomano. Os judeus, entretanto, após tantas décadas de agressiva guerra de conquista e de prática de terrorismo de Estado, não podem mais ser vistos como quem dá causa involuntária a esta tragédia interminável. Suas responsabilidades estão bastante explícitas e são parte fundamental de um genocídio que atravessou toda a segunda metade do século passado e ficou os pés no novo milênio sem dar qualquer mostra de arrefecimento.
Daqui a poucas semanas, em 15 de maio, Israel completará 60 anos de criação sem jamais ter definido com clareza suas fronteiras. Não conheceu a paz ao longo dessas décadas de conflito permanente com seus vizinhos árabes e ocupou, pela força das armas e em seguidas guerras, a quase totalidade da Palestina histórica, bem como, durante bastante tempo, porções do território sírio e libanês. Somente os palestinos, que pela resolução 181 das Nações Unidas, de 29 de novembro de 1947, deveriam ter seu Estado correspondendo a quase metade da área, continuam como povo sem pátria, exilado e estrangeiro em sua própria terra. A guerra se tornou pão de cada dia, numa espiral de violência que parece não ter fim.
Hoje, 30 de março, os palestinos da diáspora e aqueles que sobrevivem sob ocupação israelense, celebram uma data especial: o Dia da Terra. Ou melhor, o dia dedicado à luta pela reconquista de seu território e de sua soberania. A data celebra a memória de seis palestinos assassinados por tropas de Israel, em 1976, quando protestavam contra o confisco de suas terras na Galiléia. Viraram símbolos de resistência à ocupação, bandeiras que tremulam nas mãos dos que insistem em manter viva sua identidade nacional, que tem na posse da terra sua própria condição de existência.
Manifestações e confrontos deverão ocorrer, para, ao final, contarem-se os mortos. Na sua maioria, jovens palestinos com menos de 20 anos, nascidos e criados no enorme campo de concentração na qual a Palestina (Filastín, em árabe, desde tempos imemoriais) foi transformada sob a total cumplicidade da comunidade internacional.
A quem desejar conhecer os argumentos, dores e angústias do lado palestino do conflito, recomenda-se acessar o Blog do jornalista e escritor Georges Bourdoukan, cujo endereço está entre os Preferidos do Página Crítica. Leitura indispensável para se penetrar no complexo ambiente do sempre conflagrado Oriente Médio.
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domingo, 30 de março de 2008
Terra, mãe de todas as batalhas
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