domingo, 9 de março de 2008

Liberdade de movimento. Para o Capital

As fronteiras modernas servem para impedir ou dificultar o trânsito dos seres humanos. Os capitais, sem fronteiras e sem escrúpulos, não reconhecem os limites entre os países. Deslocam-se com velocidade alucinante com um simples apertar de tecla, migrando de uma bolsa para outra, da Ásia para a América Latina e dos Estados Unidos para qualquer paraíso fiscal do Caribe, sem que, muitas vezes, os portadores dessa gigantesca bolha de riqueza financeira precisem sequer ter suas identidades conhecidas. Abrigam-se por trás de fundos de investimentos e fazem parte da carteira dos grandes bancos multinacionais.
Os capitais espanhóis, que humilham milhares de brasileiros que tentam penetrar na Europa tendo Madri como porta de entrada, são muito bem tratados em nosso país, cuja desregulamentação do fluxo de capitais só fez aumentar nos últimos anos. Seus bilhões de euros podem passear tranquilamente pela Bovespa, especular à vontade, realizar lucros e, se der na telha, levantar âncoras com enorme rapidez, gozando de franquia fiscal quase absoluta.
Podem também, quando a pechincha é bastante atraente, trilhar o caminho do investimento direto, comprando na hora da xepa bancos, empresas estatais, linhas de transmissão de energia e outras concessões bilionárias, como ocorreu nos diversos trechos de rodovias federais "leiloados" em outubro do ano passado, quando as espanholas OHL e Acciona arremataram seis dos sete lotes ofertados, ou 2.278 quilômetros de um total de 2.600. Um negócio das Arábias sob a batuta da política privatista do governo do PT.
Tão bem acolhidos, os investimentos espanhóis continuam a crescer no Brasil. Não é por outro motivo que o grupo Santander adquiriu o holandês ABN Amro, que aqui controla o Banco Real, tornando-se a terceira maior instituição financeira do país. São mais de US$ 30 bilhões em múltiplas áreas. Dinheiro que já está voltando, na forma das desreguladas remessas de lucros, para os cofres do outro lado do Atlântico.
A aplicação de medidas mais duras aos turistas espanhóis - retaliação ou reciprocidade, tanto faz - é apenas um gesto de mínimo decoro. Mas, fique claro, é absolutamente insuficiente. Para fazer valer o que nos resta de soberania, o governo brasileiro deveria rever a forma extremamente privilegiada como os capitais espanhóis são tratados por aqui. Quem sabe uma mudança mesmo que parcial nesta área teria a capacidade de amolecer os corações dos fiscais da aduana espanhola, cuja xenofobia fica mais que evidente quando se trata de nos impor um tratamento de cidadãos de segunda categoria.

2 comentários:

Alan Lemos disse...

Jota-érri, sou contra essa de barrar somente cidadão espanhol se lá pela Espanha estão barrando cidadãos de uma penca de países, inclusive brasileiros. Claro, é uma das formas de forçar aquele país a liberar nossa passagem.

Mas observemos a situação com outra óptica: de todas as dezenas de voos que chegam todos os dias da Espanha ao Brasil, com centenas de espanhóis, quantos por cento desses espanhóis influenciam na política externa e/ou nos grandes negócios bilionários da Espanha? Quantos deles não são apenas cidadãos da classe média e/ou turistas?

Podemos dificultar um pouco sua entrada, mas sem dúvida que o foco é mesmo em cima das relações com a Espanha em outros campos.

Com relação ao aniversário da Marinor, tem te vi por lá.

Abraços

Aldenor Jr disse...

Anônimo das 20:16,

Desculpe mas não considero apropriado registrar neste espaço seu "manifesto" contra o jornalista Augusto Barata. São dois motivos básicos: o primeiro, e mais importante, é o caráter anônimo da postagem. Um desagravo a eventuais ataques exige que o leitor assuma as responsabilidades pelos contra-ataques que desfere. E, por último, creio que é no Blog do Barata que o texto poderia ser lido dentro de um contexto mais amplo.