Quanto custa uma passagem marítima para o paraíso europeu? Entre US$ 560 e US$ 930 em barcos superlotados, sem as mínimas condições de segurança. Muitos dos imigrantes ilegais que buscam essa saída jamais serão encontrados com vida. Dezenas sucumbem aos naufrágios que se repetem semanalmente na costa da Itália e da Espanha, com as águas revoltas do mar servindo de derradeiro porto às esperanças dos que imaginavam ser possível penetrar no território sagrado do consumo de luxo e do desperdício, onde seus braços africanos poderiam ser comprados para executar, ao custo de alguns poucos euros, as tarefas mais extenuantes e insalubres.
O drama da imigração clandestina à Europa teve, nesta semana, um novo capítulo. Os ministros do Interior da União Européia aprovaram um novo marco legal para regular a situação dos 8 milhões de ilegais nos 27 países que compõem o bloco. Por ampla maioria, o Parlamento Europeu votaram regras ainda mais draconianas como forma de tentar conter o crescente fluxo migratório que pressiona suas fronteiras por todos os lados. Agora, um imigrante ilegal pode ser detido por até 18 meses antes de ser extraditado, uma pena superior ao que era permitido em dois terços dos países europeus. Até crianças poderão ser detidas, numa evidente violação dos tratados internacionais. Mais ainda: depois de extraditado, o imigrante ficará proibido de voltar à Europa por cinco anos.
Somente no primeiro semestre do ano passado, mais de 200 mil estrangeiros ilegais foram presos em solo europeu. Destes, pelo menos 90 mil foram sumariamente expulsos.
O pacote de medidas, cujo caráter xenófobo está evidente, é a outra face - paradoxal e cínica - do discurso dos mesmos governos que advogam a plena e irrevogável liberdade para o capital sem fronteiras, cuja liberdade ilimitada foi transformada em cláusula pétrea do capitalismo financeirizado do século XXI.
Apesar de tudo, não é possível manter os bilhões de famélicos presos em seus países de origem, cuja devastação socioambiental e a pobreza crônica estarão sempre forçando, com maior alarido e desespero, o acesso ao baile elegantemente perfumado onde a aristocracia do velho mundo insiste em se confinar.
Um comentário:
É nisso que dá não ter sequer um bisavô europeu para pedir cidadania...
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