Tratar os atos de desobediência civil praticados pelo MST e pela Via Campesina em todo o país nos últimos dias como uma espécie de Ludismo redivivo, "quebradores de máquinas" do século XXI, revela um misto de desconhecimento e má-fé. Tampouco são "criminosos" e "bandidos" como quer a direção da Vale, que finge indignação contra atos mais que previsíveis. O fechamento de estradas, ferrovias e as ocupações de fazendas e campos de experimentos de multinacionais são expressão da velha luta de classes, esse fantasma que ronda e desaba sobre o mundo perfeito de uns poucos.
Os milhares de manifestantes têm algo muito importante em comum: sabem exatamente contra quem estão lutando e não se enganam e nem dispersam energias em questões acessórias. Partem do convencimento que na raiz da dramática situação social da qual são produto direto e imediato estão interesses poderosíssimos, monopólios gigantes que submetem e aprisionam governos e condicionam - seguindo uma cartilha baseada da centupilicação e hiperconcentração do capital - os chamados modelos de desenvolvimento, cada dia mais decididos de fora para dentro e de cima para baixo.
Determinados e conscientes, esses militantes sabem que sobre eles, muito em breve, vai se abater a pesada mão do Estado. Afinal, a ordem precisará ser restabelecida e é para isso que a face coercitiva do aparato estatal deverá ser usada. Pouco importa se as manifestações sejam pacíficas, agredindo quando muito pequenas parcelas de um patrimônio que foi (e continua sendo) roubado da maioria do povo. Por sinal, a Vale encher a boca para falar em "crimes" e em "atos de bandidos" chega muito perto do pleonasmo. Nesta matéria, que ninguém se engane, trata-se de uma especialista.
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quarta-feira, 12 de março de 2008
O fantasma que ainda assusta
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2 comentários:
Será que é sómente "desobediência civil" o que eles fazem?
E não fazem isso só nos últimos dias, não.Tem sido sempre assim.
E tirando a Vale, o que fazem com outras propriedades, o que é?
E será que o MST e a Via Campesina pensam sómente em "lutas de classe"?
Sei não...tem algo maior e bem mais grave por trás desse "visual romântico".
Anônimo das 14:52,
Não vejo nenhum romantismo na análise contida neste post. Apenas reconheço o direito, a legitimidade e - mais que isso - a necessidade da permanência no cenário político de movimentos sociais com o perfil do MST e da Via Campesina.
Seus métodos são por vezes radicais como radical é a realidade da qual brotam suas demandas e aflições.
A criminalização pura e simples das manifestações populares leva a um beco sem saída. Perigoso e de desfecho imprevisível.
Por outro lado, sugiro que atentemos para a pauta trazida por esses movimentos. Uma leitura atenta vai encontrar uma reflexão amadurecida sobre os dilemas de um país de cidadania interrompida como o Brasil.
Neste ano, penso, os movimentos sociais tendem a crescer e radicalizar suas lutas. É só olhar em torno e, muitas vezes, através da cortina de fumaça da mídia grande e atrelada.
Esse é um dos objetivos do Página. Volte sempre. Vamos continuar debatendo.
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