Chamas de um escândalo

Paragominas, Parauapebas e Canãa dos Carajás têm algo em comum. Não está se falando no fabuloso PIB que concentram, impulsionado, em grande medida, pelos empreendimentos da Vale, mas de algo muito mais prosaico. Esses municípios e Ananindeua - além de outros menos cotados - são clientes de uma pequena empresa familiar, até agora praticamente desconhecida, denominada Sinepa e que se especializou em consultoria e venda de serviços jurídicos. Em 2007, por exemplo, mais de R$ 1,7 milhão teriam irrigado seus cofres tendo como origem cheques emitidos por essas prefeituras.
Tudo estaria correto - em tese - se não fosse por um detalhe: a Sinepa não pode "vender" serviços jurídicos porque não tem entre seus sócios nenhum advogado. A OAB, secção Pará, emitiu certidão comprovando a ilegalidade. Mais ainda: esses "serviços jurídicos" podem ser apenas fachada para a venda de outro tipo de "serviço", sendo a ponta de um novelo que tende a desvendar um bem armado esquema de tráfico de influência junto a conselheiros do Tribunal de Contas dos Municípios (TCM). Ao invés de pareceres técnicos, a empresa venderia proteção a autoridades envolvidas em desvio de verbas públicas.
A denúncia foi formalizada nesta semana, no plenário do TCM, pelo auditor convocado Ornilo Sampaio, que promete acionar em breve o Ministério Público Federal. É que a suposta quadrilha desviava também verbas do Fundef, tão confiante que estava em seu esquema de proteção proporcionado por essa eficiente empresa, cujos vínculos à família de um advogado bastante conhecido começam também a vir à tona.